quarta-feira, 24 de abril de 2019
36a carta para minha filha
quarta-feira, 6 de março de 2019
35a Carta para minha filha
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domingo, 3 de março de 2019
34a CARTA PARA MINHA FILHA
Eu e seu pai não somos as pessoas mais disciplinadas e só agora, depois de 6 meses você dormiu às 9 da noite pela primeira vez. Faz aproximadamente um mês que você começou a dormir “naturalmente” cada vez mais cedo. Naturalmente porque até tentamos fazê-la dormir, abaixávamos a luz da casa, levávamos você para o quarto, seu pai tocava e cantava canções de ninar. Você mamava e ficávamos, eu e você, no meu colo, ora mamando de olhos fechados, ora dormindo, acordando pra mamar… E eu tentando colocar você no bercinho, mas isso te fazia acordar e nosso ritual recomeçava. Isso levava 3 horas no início, depois duas horas, depois uma hora e meia. E hoje, pela primeira vez apenas uma hora. Depois de mais de 6 meses. Houve um momento que você quase acordou, chegou a se virar sorrindo para o seu pai. Aquele sorriso que convida para brincar ou te abraçar. É sempre difícil resistir. E também difícil decifrar o que pode ser feito. Só hoje eu compreendi. Falei baixinho para o seu pai fechar um pouco a porta, bloqueando ainda mais e entrada de luz de fora do quarto, coloquei você no meu peito e passei meus dedos ternamente em seus olhos. Aos poucos seu sono foi voltando. As pálpebras foram se entregando devagar. Então você dormiu, ensinando-me um pouco mais sobre si mesma, sobre como lidar com você.
Aconteceu o inesperado. Pela primeira vez nesses 6 meses eu e seu pai a deixamos no quarto para assistirmos um filme. Fomos diversas vezes interrompidos pela nossa ansiedade, saudade e estranhamento por você estar dormindo tanto sem nós. Visitamos o quarto escuro, acendemos a lanterna do celular para observarmos seu semblante doce. Isso se repetiu algumas vezes.
O filme que escolhemos tem um nome muito propício “Nasce uma estrela” e em uma das cenas mais bonitas para mim o protagonista masculino aconselha a protagonista feminina a dizer o que tem a dizer, porque não somos ouvidos para sempre. Quando somos ouvidos precisamos dizer. Ele se referia ao sucesso da personagem. Mas eu penso que isso vale para nossas vidas. Na perspectiva de idade do nosso planeta, nossa vida é muito breve, como um sopro. Eu quero que você possa viver a sua, meu amor, expressando a verdade do seu coração, ciente de que esse espaço entre o nosso nascimento e a nossa morte é como o intervalo de um discurso. Precisamos viver nossas vidas fazendo o NOSSO discurso. Ninguém pode viver a nossa vida por nós. Ninguém pode dizer as nossas palavras. Só nós mesmos!!! Só você mesma.
sexta-feira, 1 de março de 2019
33a carta para minha filha
32a carta para minha filha
31a Carta para minha filha
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
30a Carta para minha filha
30a CARTA PARA MINHA FILHA
Somos duas apaixonadas pelo mundo. O que existe ali fora? Como posso interagir com as pessoas? Eu tenho tanto a dizer... Tanto a contar. O que eu sinto, o que eu vejo, eu não venho desse mundo, mas eu amo esse mundo, e porque amo é como se esse mundo fosse meu. Eu quero viver. Estou cheia de olhar pras paredes do meu quarto, da minha casa, de ver só o mesmo rosto. Também quero saber desta que me interpela pelo espelho, que me sorri quando eu rio. Essa outra que ainda não sei que sou. Sou eu. Sempre eu. Esse mundo em volta que eu vejo, percebo e recebo como a mim mesma. O mundo. Também sou eu. Também é ela. O mundo. Aquele de onde saí, escuro, pequeno, quente. A claridade entra pela janela. Eu sigo a luz. Eu saio. Foi o que fiz na primeira vez. Eu quero sair e ver o que há lá fora.
Eu tenho muitas coisas pra contar. E muito mais pra viver. Filha, essa carta também poderia ter sido escrita por você!
29a CARTA PARA MINHA FILHA
sexta-feira, 4 de janeiro de 2019
Réveillon
Já faz 9 anos que passo o Réveillon na casa da minha cunhada @mariliacampregher
Já fizemos 9 rituais diferentes, sempre tentando elevar a consciência para que este símbolo de passagem do ano possa ser aproveitado da melhor forma. Desta vez, antes da meia-noite cada um escreveu o que queria deixar em 2018, em outras palavras do que queria se desapegar para seguir livre daquilo em 2019. Em seguida jogávamos o papel na fogueira.
É curioso observar, em momentos assim, que podemos estar apegados à coisas que não queremos mais.
Pra mim foi bem difícil jogar fora a gula, pois eu estava com a cabeça nas sobremesas da ceia, que eu, praticamente, só como neste dia do ano.
Percebi que a gula me dá um bocado de prazer e achei que me livrar dela seria perder um pedaço “gostoso” da vida. Então lembrei de algo que aprendi em uma live do Dr. @italomarsili . As virtudes humanas estão emaranhadas como teias. Não adianta querer no ano-novo uma virtude que te exija um esforço radical. Isso só vai te fazer fracassar e achar que não consegue nada. Ao passo que se você escolhe trabalhar uma virtude mais possível pra você ela se ergue e vai puxando para o alto, como uma rede, teia, todas as outras virtudes. Então escolhi outra coisa em que vou focar neste ano. Na verdade desapegar, mas é algo que também pode ser trabalhoso, mas ao qual eu já me sinto mais aberta.
E vocês? Fazem rituais de passagem no ano-novo também?
#ritualdeanonovo #ritualdereveillon #ritualdepassagem
Após ser mãe
Hoje estava contando no stories que a maternidade é como nascer de novo. Nós mães, temos isso em comum com nossos bebês, a oportunidade de fazer tudo de novo pela primeira vez, bem diferente de antes. E é tudo mesmo, principalmente as atividades que resolvemos, ou temos que, fazer sozinhas com o/a bebê. Tomar banho. Alimentar-se. Ir ao banheiro. Sair de casa. Tudo que é simples fica novo e precisa de alguma artimanha para ser feito sem comprometer a segurança e conforto da criança. Afinal nos tornamos coadjuvantes da nossa própria vida. Cada passo é uma conquista. A autoestima fica renovada.
Quando os bebês nascem sentimos que nunca mais conseguiremos fazer umas série de coisas sem ajuda (com vocês também foi assim?), mas aos poucos vamos encontrando nossa força e autonomia.
A foto no provador é só um registro da minha alegria de conseguir me virar com ela, amamentando no provador e escolhendo roupas com preços promocionais (algo que sempre curti fazer). Existe vida após a maternidade. rsrs
#maternidadeconsciente #maternidadecomamor #maternagem #mãe
Dia da Doula
Estou há meses preparando um post para contar a nossa jornada para a chegada da Nina. Estou quebrando o silêncio sobre como foi o parto para homenagear a nossa doula @madhuri_oficial porque hoje é dia da doula. Tiramos esta foto depois de mais de 12 horas juntos. Aliás não fiz as contas direito. Mas foi no mínimo por aí. Foram várias fases do trabalho de parto e esta foi uma das lições que aprendi com a Madhuri nas conversas que tivemos em encontros anteriores ao parto. Mas o que eu mais lembro de sua presença, naquela noite que atravessamos muito juntas, é de seu canto, evocando a minha luz feminina, e de seu olhar, que em alguns momentos foi o meu único norte, que me segurou no chão, viva e consciente de que eu não estava sozinha. Quando a dor chegava ela me dizia “olha pra mim” e de seu olhar arranquei força e abrigo e, acima disso, encontrei o meu próprio poder refletido ali naquele brilho. Obrigada por tudo, querida! Reverencio você e o que você faz. 🙏🏻🙏🏻🙏🏻💜💜💜
segunda-feira, 31 de dezembro de 2018
28a CARTA PARA MINHA FILHA
28a CARTA PARA MINHA FILHA
Este tempo,
em que meu lugar é o sonho
em que te contemplo viva
mais real que eu mesma
Este lugar em que me apaixono
Em que você encerra meu sono
E me acorda com riso
Aprendo uma lição impronunciável:
Nada mais preciso
A não ser você nos meus braços
E toda a minha vida nos seus. >poeminha de agora: 30/12/2018 - 14:28 >foto do início do Samba na Caverna, 29/12/2018, na casa dos meus cunhados, com o Paulo tocando ao fundo e Nina dormindo e sempre me tocando profundo
domingo, 30 de dezembro de 2018
27a CARTA PARA MINHA FILHA
27a CARTA PARA MINHA FILHA
Já faz um ano. Eu era outra e você tinha acabado de chegar em mim. Eu tinha uma vida minha. Do início das manhãs ao fim das madrugadas, os dias eram meus. Eu tinha noites e sonos bem dormidos. O corpo mais rijo e esticado na cama. Banhos longos, sem pressa. Vontades que eu podia realizar. Horas livres.
Você veio. Veio preenchendo os vazios. O vazio do meu corpo. O vazio da minha alma. O vazio da minha vida.
Sorri quando senti você pela primeira vez. Senti seu espírito. Seu corpo não era passível de ser percebido. Mas a sua presença já reluzia como uma chama viva. Eu me confidenciava apenas com seu pai “acho que estou grávida”. Já faz um ano. Ele mal podia acreditar que tanta alegria e merecimento eram possíveis. Demorou para entender. Eu também.
Já faz um ano e eu ainda não entendo.
Não sei de nada. Só sei que você está em tudo. Toda a minha vida tomada. Eu: completamente sua.
15/12/2018
#cartasparaminhafilha #maternidadeconsciente #mãedemenina #mãe #vidademãe #maternagem
Ensaio gestante: @sitah_photoart
terça-feira, 27 de novembro de 2018
26a Carta para minha filha
26ª CARTA PARA MINHA FILHA
Amo você, filha. Meu amor nasce de todas as minhas transcendências. Ao me levantar com preguiça para te pegar no colo, ao me deixar sempre pra depois para ficar com você. Você é mais importante! Da minha preguiça nasce meu amor, pois ele a vence, forte como um touro. Então acolho você em meus braços e o amor me acolhe. Tenho vislumbres sobre minha condição de mãe. Sobre a oportunidade de ir além, de descobrir partes minhas que eu desconhecia, alcances maiores do meu ser, pontos mais sublimes da minha personalidade… Claro que atravessamos juntas a minha sombra. Mas seu sorriso me perdoa. Parece que você não se importa e cura a culpa pelas falhas que eu penso cometer. Sei que não haverá perfeição. Mas me deixa tão feliz poder te dar o meu melhor, o melhor que posso, o melhor que eu tenho agora. Cada processo de maternidade é único, mas o meu é de regar essa minha alegria vaidosa de ser a melhor mãe. Não melhor que as outras, melhor do que eu mesma! A melhor mãe que eu posso ser.
#cartasparaminhafilha #maternidadeconsciente #mãedemenina #maternagem 📸: @sitah_photoart
25a CARTA PARA MINHA FILHA
Choro com você nos meus braços, como se eu fosse a criança nos seus. Você me Nina, eu menina, mesmo sendo você a mais pequenina, você me ensina jeitos de te fazer dormir, jeitos de renovar o amor, de te conhecer, jeitos de não saber, de reaprender, lembrar, esquecer, começar de novo. Afinal há sempre um amor novo por você. Lágrimas de poesia, transpiração etérea do que sinto, flocos de ternura, meu colo tão repleto, e eu tão sua, tão sua…
Estou ouvindo “A soaring heart” uma canção que conheci para te ninar, ninar seus sonhos. Dessa canção vão nascendo essas palavras de pranto. Esse canto que eu canto.
Esse instante é uma eternidade que quero manter e ao mesmo tempo ver crescer, florescer, desabrochar, como seu riso ao acordar, ou ao me ver, diante do seu olhar. Então a dor da mãe que se doa completamente, inteiramente, se dissolve em um solúvel universal: um amor que só se compreende sentindo. É preciso alertar as jovens mães sobre a dor, pois nada adianta dizer sobre esse amor, ele atravessa as expectativas e brilha quando menos esperamos. Coloco alguma consciência quando você está no meu colo e percebo que tenho pressa. Pressa de sair, de conseguir me arrumar antes, de me sentir bonita, de experimentar alguns momentos dos braços livres, de espreguiçar, pegar um copo com água, comer… À luz da consciência perco a pressa e tenho você, meu tesouro encantado, dona de toda a minha vida, a quem entrego a liberdade, o amor, meus braços, meu peito, meu corpo. E você vai tomando o espaço de tudo e às vezes me devolvendo em pílulas algum conforto na suas singelas independências conquistadas: alguns minutos deitada no sofá olhando o lustre, tentativas de conversar em grunhidos com a almofada, silêncio na cadeira de descanso… Até que seu choro ou incômodo me convoca novamente. Não tive tempo de nada, filha, penso inutilmente em fazê-la compreender. Não adianta. Eis que se abre uma oportunidade nova: você mais uma vez em meus braços. Olho seu rosto dormir ou me olhar e sonho em guardar em um cofre secreto esse momento. Choro com você nos meus braços, filha. Choro de amor. (Out/2018)
#maternidadeconsciente #mãedemenina #cartasparaminhafilha 📸 @sitah_photoart
sábado, 3 de novembro de 2018
Oceano
A natureza é mesmo mágica. Um ser completo se formou dentro de mim. E meu corpo o expeliu como se fosse um órgão vital, do qual abrisse mão todo meu organismo. Mas não era um órgão. Era uma pessoa inteira. Uma pessoa pequena mas com todos seus órgãos inteiros, que iria se alimentar de um líquido branco, saído do meu peito. Do leite que não sei como comecei a produzir, como vaca, macaco e baleia também fazem. A pessoa pequena se fez sabendo sugar, chorar, abrir boca e olhos, fechar as mãos para agarrar meu dedo. A comunicação ainda precisa ser toda desenvolvida, nasce inteira mas não sabe falar. Já dorme e sonha. Já mira os olhos das pessoas em silêncio. Já travou uma jornada comprida e desafiadora dentro do meu corpo. Foi como atravessar um oceano no escuro. Sozinha. Eu não era companhia. Eu era o oceano. E, de repente, isso tudo, me torno uma voz familiar, uma mão desesperada que quer atender o choro rápido trazendo esta pessoa pequena ao colo, ao peito, ao leite. E eu me torno outra, um berço acolhedor, em forma de gente, que se molda a ela e às suas vontades. Conectadas por bicos (do seio e da boca) quase parecemos uma. Não somos uma. Somos duas mulheres inteiras se descobrindo.
(Out/2018)
segunda-feira, 24 de setembro de 2018
24a CARTA PARA MINHA FILHA - sobre não saber
sábado, 22 de setembro de 2018
23a Carta para minha filha
23a Carta para minha filha
Você redimensiona o mundo, meu olhar, meu sentir, eu mesma.
A cada olhar para você uma ampliação.
Tens o cheirinho perfumado de uma flor que é humana, plantada por um profundo amor, de dois corpos e duas almas.
Você eterniza uma união efêmera…
Em você seu pai e eu estaremos unidos para sempre.
O amor que você faz acordar em mim é um território que eu desconhecia e ainda desconheço, é você que me guia ao se revelar e assim revelar uma planície intocada de mim mesma. Cada dia uma descoberta. Descubro você crescer, ganhar bochechas maiores e mais rosadas, um papinho abaixo do queixo, os olhos cada vez mais alertas reconhecendo o mundo. Há uns 3 dias você olha as paredes, os quadros da casa, os violões e máscaras que temos pendurados na sala. Você agora vira o rosto e parece tentar emitir com a boca o som das nossas vozes quando conversamos com você.
Temos tanto tempo juntas, mas esse tempo corre tão depressa. Não é mais o mesmo tempo de antes. Tudo acelerou e também ficou mais lento. Demoro mais para fazer o que eu fazia, o relógio não me espera. Os dias correm sem caber neles as minhas vontades, os meus planos, ou mesmo meu sono. Você dorme por horas durante o dia. À noite às vezes demoro horas para conseguir que você pegue no sono.
Amanhã seu pai volta a trabalhar e viveremos uma nova fase, assim como serão sempre novos nossos dias. Os adultos são tão previsíveis e iguais. Você muda o tempo todo antes que eu me acostume.
Estou sendo uma boa mãe? Você se sente amada? É o que me pergunto e te pergunto quando estamos a sós. Quero tanto que você sinta meu amor...
Amo o seu biquinho que antecede o choro, quando as extremidades das laterais da sua boca descem e seus lábios formam o desenho de uma meia lua deitada para baixo. Tenho pouco tempo quando olho para esta cena, pois meu corpo tem o impulso selvagem de enlaçar você nos braços e do bico dos meus seios jorra um leite puro para alimentar tudo que te falte. Para que nunca falte. Para que eu nunca falte pra você. (Ainda que eu mesma me falte). Sua mãe.
(escrito em 17/9/2018)
quinta-feira, 13 de setembro de 2018
22a Carta para minha filha
“Ela vai crescer rápido”
Ele me disse essa madrugada, com você no colo, no intervalo de uma canção de ninar que balbuciava.
Tive alguns segundos para pensar se estava se referindo a algum conhecimento biológico sobre seu crescimento, mas ele completou:
“Passa tão rápido. Por isso quero aproveitar todos os momentos”.
Desde que você chegou, escrevo este texto no seu 19o dia, seu pai trocou praticamente todas as suas fraldas. A sua vovó também várias e eu poucas. Mesmo assim vivemos momentos muito intensos, só eu e você, enquanto todos dormiam, ou enquanto só havia nós mesmo, ainda que todos estivessem acordados em volta. Você ainda não sabe que sou sua mãe. Você procura meu seio no ar mesmo quando estou muito perto. É como se você nem sequer me visse ou percebesse a minha existência. Sei que bebês são assim mesmo nesta fase, mas eu me enxergo sendo muito sua, um pouco perdida de mim mesma, renunciando minhas vontades, meu conforto, para que não te falte leite, colo, ou companhia. Ainda que esteja tudo misturado pra você, todas as companhias, colos, leite (apesar de nesse caso ser sempre eu), te dão o mesmo conforto, quando você o consegue sentir, o mesmo sono, quando ele chega, não importa muito quem seja… Mas, às vezes, parece que faço alguma diferença quando observo você se acalmar de um choro nos meus braços. E sei que estas singelas situações tem me importado mais porque meus dias tem sido você. Como qualquer ser humano é de fora que acabo procurando o afeto essencial do meu ser. Então, mesmo você sendo tão frágil e pequenina, me pego esperando de você reconhecimento e amor, o que ainda parece muito cedo para que consiga me dar. Sendo assim sou sempre eu que te dou, de uma fonte que eu nem sabia que seria capaz de oferecer, uma nascente interna e abundante, do leite que jorra do meu seio, o seio do meu corpo e do meu sentimento. Assim como você expandia meu corpo, minha pele, agora expande meu coração, um vasto lugar, de onde tiro forças e intensidade para soprar a você potência, alma...
Nossos encontros, em noites mal dormidas, madrugadas adentro, quando só alguns pássaros estão acordados e cantam no silêncio desta enorme cidade, como se soubessem que, ali muito perto, há uma mãe a alimentar sua filha. Esta mãe está exausta e sua bebê chora sem que o motivo fique claro. Aos poucos se esgotam as tentativas de acalmá-la. É sempre o peito que cala o choro e faz dormir, mas isso pode durar uma sequência de horas, até que se instale na penumbra do quarto um intervalo silencioso cujas vozes se apaziguem com o cerrar dos olhos. Somos duas crianças e duas mulheres querendo descanso.
Nina, vou sentir saudade de tudo isso. Mesmo quando tão intensamente desejo que passe. Vou sentir saudade. E, como bem me lembra seu pai, passa rápido, meu amor, passa muito rápido!
(Escrito em 13/9/2018, Nina tem 3 semanas e 1 dia)
domingo, 2 de setembro de 2018
21a Carta para minha filha
21a Carta para minha filha
Quando o amor veio singelamente suspirar suas cantigas de vento em meus ouvidos/
Eu soube, não haveria espera que não te enviasse ao meu corpo/
Nem sonho que não te criasse em meu colo/
O amor vinha sussurrar seus nomes/
Pequeninos e imensos cristais de tocar com dedos delicadamente/
Jamais saberia escolher um para te representar.../
Verdes são as frutos nas árvores intocadas/
Você no ventre ainda imatura a amadurecer tua árvore de leite/
Beberás o leite como uma gotinha orvalhada da noite derradeira/
Sempre sedenta como uma flor no deserto/
Tua alma vem com histórias que vou contar, para que nosso canto nunca cesse/
Um canto feito de vozes, música, danças e doces/
Convertido em beijinhos na face rosada, ou lágrimas de sentir demais você/
Essa água não cabe mais em mim/
Choro meu amor, canto meu amor, nino meu amor no peito/
Uma menina, uma pétala, eu, seu pai: uma família/
Eu te nino, me-Nina, Nina o pai também/
Pois és preciosa e pequenina mas sua grandiosidade nos ensina/
O amor que não sentimos antes/
Guardado estava, pra você brincar.
#cartasparaminhafilha
domingo, 12 de agosto de 2018
20a Carta para minha filha - Dia dos pais
domingo, 5 de agosto de 2018
18a Carta para minha filha
18a CARTA PARA MINHA FILHA
(Continuando a carta anterior)
Quando nos apaixonamos criamos eixos que sustentam nosso encontro (e reencontro, que precisa ser repetido com a mesma potência para estar vivo e novo). É fato que todo relacionamento duradouro se faz de “recontratos”, pois mudamos sempre, mas o nascimento de uma criança deve ser o que de mais transformador possa acontecer a um casal. Como se de repente a substância de duas pessoas fosse demasiada para seus corpos e inundasse de líquido humano, fértil, perfumado e amoroso um outro “pote” corporal. Você, filha, já nasce banhada pelo nosso amor e emerge dele também. Você é fruto e motivação do nosso encontro, geradora e consequência da nossa união.
Mas por inspiração nas conversas que temos com Madhuri ( @madhuri_oficial ), a doula, reconhecemos que após o seu nascimento, quando o furacão da transformação tiver passado e deixado suas marcas, precisaremos olhar com profundidade para quem somos, fatalmente seremos outros. Teremos que atravessar a redescoberta da nossa alma para então nos apresentarmos novamente. (Sugestão baseada nos estudos da Madhuri)
“Olha, meu nome é Aline, hoje eu gosto disso, eu não gosto mais daquilo, eu me interesso por isso, para mim é importante aquilo. Para tal coisa eu não ligo mais, porém preciso disso e posso oferecer isso. Para mim relacionamento se tornou isso. Você topa?”
Filha, o seu pai há de fazer o mesmo e me dizer. Poderemos pensar se somos capazes de levar adiante um casamento tão diferente do que aquele ao qual nos dissemos “sim, eu quero me casar com você”, mas sabendo disso parece que será ao menos um pouco mais fácil, estaremos mais abertos a nos compreender e compreender o outro. Pode ser que daremos como resposta: “Vai ser difícil para mim tolerar essa parte! Mas aceito tentar” e também pode ser (sou romântica e otimista, filha!) que nos apaixonemos ainda mais e mais profundamente por aqueles que seremos, após você passar por nós. É assim que sinto. (Continua na próxima carta)
#cartasparaminhafilha
19a Carta para minha filha
19a CARTA PARA MINHA FILHA
Filha, nas horas doces da vida vi muitas vezes escapar, do homem que amo, o seu pai em um sorriso. Saía sem timidez ao olhar um bebê, carregar uma sobrinha, ou te imaginar. Em alguns momentos antes de dormir a se perguntar "já pensou uma menininha dormindo aqui com a gente?"
Desde que ele instalou você no meu ventre esse sorriso tão pouco assíduo foi ficando mais presente e duradouro. Um sol brilhante no rosto dele, um sol todo seu, filha, direcionado para essa lua cheia, crescente, luminosa, na minha barriga. Há meses, quando notamos você se expandir como uma semente que rompe a terra para cumprir seu destino de árvore, ele começou a conversar com você todas as noites antes de dormir. "Está quentinho aí, filha? Deve ser gostoso estar na barriga da mamãe! A gente está te esperando. Vai ser gostoso aqui também. Olha, a saída é por aqui!". Dizia ele apertando levemente meu baixo ventre. Outros dias ele contava algum acontecimento "Filha, hoje fizemos o ultrassom e vimos você!" ou ainda "Hoje a vovó veio aqui em casa e levou umas roupinhas suas para lavar". Também fazia muitas perguntas como se sua voz estivesse disponível para responder e fosse decifrável para nós "Já está dormindo, filha? Tá acordada?" e com as mãos ficava sentindo se você correspondia com algum movimento, como se você estivesse nos ensinando o seu alfabeto próprio que o deixava mais entusiasmado em traduzir "É mesmo? Acordou?" E olhava para mim, como se para confirmar que eu também testemunhava o fenômeno de um pai amar e se comunicar com uma filha que ainda não nasceu. Por vezes meu olhar ficava turvo de lágrimas. Enquanto te dizia em palavras, filha, ele me validava em silêncio, seu pai reconhecia em mim a mãe emanando carne, ossos, sangue, te nutrindo de vida e ele ali, nos nutrindo de amor. O seu pai tem tanto amor dentro de si, que ele se esparge em arte e em ciência, em música e em poesia, em presença e em abraço, em carinho e no sorriso dele. Meu pai, filha, o avô que você não vai conhecer fisicamente quando nascer, dizia que "era um sorriso capaz de iluminar uma sala toda".
Daqui uma semana será domingo de dia dos pais. Fico pensando se você vai querer passar essa data dentro de mim ou no colo do seu pai, se ele estará olhando seus olhos ou o meu umbigo e se estaremos sorrindo de amor ou de ansiedade. Você escolhe, filha!
17a Carta para minha filha
16a Carta para minha filha
16a Carta para minha filha
Enquanto publico as cartas que escrevo a você, filhinha, muitos corações nos acompanham. A sua mãe tem mesmo gosto por ser lida e partilhar o que sente. Além de te deixar esses vários símbolos de amor, cada carta também espalha pelo vento do mundo a conexão única que estamos criando mesmo antes de você nascer. Na carta anterior falei da nossa bagagem, que ao nascer já está um pouco cheia, nela trazemos também alguns segredos que aos poucos somos capazes de revelar a nós mesmas. Não são inventados, só mal compreendidos. São origens anteriores a nós. Veja só, filha, eu com esse prazer pela escrita e minha mãe cursou Letras. Eu com meu amor pela educação e minha mãe e pai são pedagogos. Jung, um homem muito admirado por nossa cultura, querida, e que deixou uma linda obra de pesquisa sobre o humano e nosso inconsciente (onde provavelmente esta bagagem se situa), tem uma frase muito boa que diz mais ou menos assim: “Nada influencia mais os filhos do que a vida não vivida de seus pais”. Todos os sonhos que eu não viver pode ser que sobrem como peso na sua bagagem. Preciso viver meus sonhos!
Porém não sei se Jung previu que podemos também ser escolhidos por almas que compartilham nossos sonhos. Acredito que de alguma forma escolhi assim meus pais, os que já amavam o que eu também amava, mesmo antes de mim. Como e por que será que você nos escolheu?🙏🏻💜 #cartasparaminhafilha
📸 @sitah_photoart
sexta-feira, 3 de agosto de 2018
15a carta para minha filha
15a Carta para minha filha
Como é sábia a natureza, filha!
A mulher tem 9 meses para tornar-se mãe. Um tempo de mergulho em si mesma. Acontece ou acontece. Algumas podem viver isso propositalmente com entrega e consciência. Quando não é possível existe o sono incontrolável que toma as grávidas. Não é só cansaço, é tempo para se assimilar internamente todas as transformações. O sono permite os sonhos, as imagens e histórias inverossímeis que formulam na alma o que precisa ser vivido ou revisto, revisitado. Também é comum que a gestante se torne mais seletiva, escolha melhor com quem irá encontrar, de quem irá se aproximar ou distanciar. Às vezes o distanciamento pode ocorrer mesmo de pessoas muito amadas, mas se alguma convivência não está trazendo amor e acolhimento, sem nem notar, a gestante se afasta, e não faz isso por si mesma, mas pela criança que carrega e que não pode se defender sozinha. É o instinto materno protegendo a cria. Não é incrível?
Olhando para trás, nesses meses, filha, me percebi algumas vezes em conversas desagradáveis. Lembro que logo minhas mãos tocavam a barriga na tentativa de criar uma barreira para aquele conteúdo não atingir você. Também me notei mais caseira, querendo mais horas de descanso, sono, ou de lazer divertido e gostoso que fizesse bem pra mim e pudesse agradar você também. Acho que fiz essas coisas com pouca consciência e escolha, por isso celebro a minha natureza feminina que me guiou nessas direções.
O mundo está evoluindo mas continua um tanto despreparado para compreender os processos internos humanos. Carregamos a bagagem do nosso passado e dentro dela a bagagem de todos nossos antepassados com as percepções deles, dores, mágoas, alegrias e belezas de todo o tipo. Essa hereditariedade está ainda mais presente na gestação, na maternidade e na paternidade, porque justamente estamos ampliando para mais uma geração que irá carregar a nossa bagagem. Quando abrimos essa “mala” de conteúdos inconscientes e procuramos compreender (o que implica nos compreender), damos a oportunidade de que o próximo carregue uma bagagem mais leve. Tenho tentado aliviar o tempo todo o peso da sua bagagem, filha.
📸 @sitah_photoart
14a Carta para minha filha
quinta-feira, 2 de agosto de 2018
13a CARTA PARA MINHA FILHA
domingo, 29 de julho de 2018
12a CARTA PARA MINHA FILHA
12ª CARTA PARA MINHA FILHA
De que lugar do universo vem essa força, esse Ser que já me habita com suas vontades próprias e expressões? Parte de você filha, parece ter vindo de dentro de mim e de dentro do seu pai, assim demos origem a sua carne, ossos, sangue, sua matéria, o corpo com que viverá a aventura da sua vida no planeta Terra. Mas há também sua parte sagrada e etérea, sua alma sublime e potente, a música da sua existência, a essência do seu Ser. Acredito que não vem de mim, nem para mim, mas para o mundo. Para mim somente na medida que sou parte deste mundo, e que agora o represento, na esfera do meu útero: o mundo todo pra você. Sinto-a navegar nas águas do meu mar e do meu amar. Você ainda passará pela minha terra, um portal que dará você à luz.
Por muitas vezes refleti sobre esse termo “dar à luz”. O parto é a primeira dissociação de nossos corpos em que sabiamente a nossa linguagem nos indica que eu a estou dando, mais que a recebendo.
Preciso sempre me lembrar!
E quem te recebe é a Luz. Provavelmente esta, sim, a de onde realmente você veio.
Seja sempre bem-vinda, filha, ao lar iluminado que te deu origem, de onde se preencheram de alma todos os seres, e todas as coisas belas e puras!
Bem-vinda!
#cartasparaminhafilha
Foto: @sitah_photoart