domingo, 28 de dezembro de 2014

Invenção

Você nunca está comigo
Nunca
Você não me vê
Você não repara
Você não me sente
Queria que me adivinhasse
Mais do que sou capaz de adivinhar a mim mesma. 
Não seria o homem amado aquele que me sabe mais do que mostro?
Que me nota o que não digo?
Que me oferece abrigo?

Preciso inventar que não me ama
Para justificar minha tristeza inerente
Que sinto dentro da alegria
Que escondo no riso


A solidão que fica junto a mim

Eu sei da minha solidão 
Um isolamento que se consuma em meio aos outros
Ninguém me sente ou sabe
Sou abandonada por dentro
As aproximações não sou capaz de sentir
As rejeições sim 
O tempo todo, quando estou junto

Como se sozinha eu fosse mais alegre
Como se junto eu fosse mais sozinha. 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Labirinto

Chego em casa e penso em percorrer todo um labirinto. São muitas as canções dos meus passos. A literatura me dita frases de efeito que saem prontas. Basta ouvir um poeta me dizer um punhado de palavras. Os livros me provocam isso. Um vômito sem sentido. Mas uma beleza que coleciono porque de alguma forma conversa comigo. Em casa eu penduraria quadros com as minhas frases. Penduraria nas paredes brancas meus próprios rabiscos. Caberia meu nome? Minha assinatura é a lembrança que existo, sou alguém, tenho nome.

O que escrevo componho entre o intelecto e o espírito, ainda sou eu com alguma consciência de mim mesma. O prazer de ser traz só silêncio, as palavras precisam de um desconforto para sair. São a busca de um estado que as cala. A busca permanece e elas nunca calam, nem eu mesma calo. Vejo que as palavras são em grande parte eu mesma.

A literatura é também uma religião aos que a vêem desta forma. Um caminho para iluminação, mas um caminho que nunca ninguém alcançou, onde as passagens importam mais que a chegada. O escritor teme se livrar dos desprazeres que o fazem explorar a linguagem. É isso! Uma busca da libertação através da linguagem. Jamais se chegará a algum lugar. Escreve é um consolo. Ler é um consolo. Vem o êxtase momentâneo. O paraíso se aproxima por frágeis instantes. Viver no paraíso é não ter palavras para contar.

Canto as canções do labirinto que eu sou. Sem saída.

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Retiro com Prem Baba




Acabo de voltar de um retiro do silêncio com Prem Baba, no Spa Maria Bonita em Nova Friburgo, Rio de Janeiro. 

Uma experiência vivida em silêncio é difícil de ser explicada em palavras. Silenciar é ouvir (e ver) nossas questões internas. Falar é um vício de distração e falta de presença. Muito do que dizemos não sentimos e muito do que sentimos não dizemos. As palavras, em geral, estão privadas de expressar quem somos, por puro mal uso. Ficam reduzidas a automatismos. Sem alma as palavras estão mortas, com palavras mortas a vida fica repleta de sons vazios. Vazios que o silêncio preenche com alegria ou angústia, mas com verdades.
Prem Baba é um despertador de presença, um guia do turismo interior, ele conduz pelo trajeto que ele mesmo passou, além dele ser essa inspiração toda, que é sua própria existência: uma vida dedicada ao amor. 

Quem parar para ouvir o que ele diz, para ouvir seus silêncios, encontrará verdades muito profundas. Há uma maestria em tornar simples aquilo que é complexo. Isso pode vagamente ser interpretado como óbvio, mas um ouvido apurado perceberá que há uma sabedoria além desse óbvio, somente acessível aos mais sensíveis. Há um detalhamento das entranhas e sentimentos humanos que não se encontra nos livros e que independe dele ser um iluminado, ou um guru para você. A magia é que ele pode ser a qualquer um apenas um amigo, mas uma amizade verdadeira, que enxergará suas verdades sombrias, mas suas mais brilhantes virtudes e saberá dizê-las com precisão ou calá-las conforme seu merecimento. 

Eu digo por experiência própria, pelo que vivencio e vivenciei aprendendo com ele. As experiências são particulares, o que serve para mim não é necessariamente o caminho de todos, claro. Contudo, mesmo que não seja seu caminho algum benefício encontrará nesta sabedoria que ele propaga.
Eu costumava me sentir envergonhada sobre as interpretações das pessoas quando a gente expõe o que sente, entretanto vi que estamos tão carentes de VERDADES, de autoconhecimento, mesmo sendo tão conhecedores de tudo... Então, que eu possa espalhar o que aprendi porque não mereço me banhar sozinha nesse conhecimento tão rico e farto que tenho entrado em contato.

domingo, 2 de novembro de 2014

Rei

Fazenda, em 14/10/2012:

É você meu rei
Somente eu o sei,
Embora a tua majestade brilhe
Como duas esferas cintilantes
Sobre teus ombros. 

Você é meu rei 
Porque em ti encontro o ouro da minha vida
E a riqueza de cada manhã
Tenho ao teu lado o reino mais precioso
Que a história única e simples dos nossos dias

Sou, ao teu lado, uma rainha
E são teus lábios que coroam os meus com beijos noturnos, 
antes que eu durma

E antes que adormeçam teus olhos
Eles ainda iluminam nosso leito com tua sabedoria
(dos livros e da alma)
E sei que me sabes mais rainha quando durmo
E te sei ainda mais rei quando acordo e te vislumbro
Sou como quem acorda da realidade para mergulhar em um sonho profundo,
Que é você, meu amor. 

sábado, 1 de novembro de 2014

Iminência

Existe uma beleza na solidão que se instala quando estamos juntos.

É que ela está sempre na iminência de acabar. 

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Pessoa Humana

Existe um pleonasmo muito bem-vindo, que é quando dizemos "pessoa humana", como se a humanidade pudesse habitar duas vezes o mesmo lugar.

O Direito e a Vida

Vim prestigiar minha amiga Renata da Rocha, em sua palestra na PUC, ao lado da Profª Maria Garcia. Eu estudei Direito, mas isso foi em uma outra vida, quando eu esqueci de ser...

A palestra dela foi brilhante! Estou agora a refletir. O Direito existe por causa da humanidade, por causa da vida e é também uma forma de preservá-la, protegê-la, mas quando ele se distancia da vida para se tornar uma ciência abstrata ele se esvazia. É preciso gente, alma, pra devolver ao Direito a vida e para devolver o Direito à vida. 

Minha amiga Renata faz isso muito bem. O Direito de suas palavras é vivo. 

Vida

A coisa mais interessante do mundo é a vida. 
Quando é possível compreender a relação com a vida tudo pode ser interessante.

Mas o que é a vida?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Quem me procura

Na minha adolescência eu tinha muitos amores platônicos e era muito tímida. Eu já amava escrever, que era o único lugar de refúgio para todo o sentimento não expressado que morava em mim. Meus poemas contavam meus amores não vividos, tudo aquilo não realizado na vida, emitido somente em palavra. Quando me perguntavam para quem eu os escrevia, nem eu mesma sabia, era para um "outro" sonhado, que eu sequer conhecia, alguém que eu estava à procura. Mas se eu o procurava imaginei que ele também estava à minha procura. Então escrevi esse poema:

QUEM ME PROCURA

É muita amargura
Porque pra mim o teu olhar tem tal fissura
Que meu maior medo é do teu pranto
Derramando-me lágrimas que gritam
Tanto quanto gritam os que choram,
Tanto quanto choram os que por ti tem tal encanto
Choram porque te olham e não te encontram
Choram pelo medo e pela dor de te amar
Choram como eu choro
A desejar cada segundo do teu tempo
Meu maior desejo?
É estar em teu mundo e me encher de encantamento. 
Porque teu beijo é meu momento de ilusão 
É que o traduz e cristaliza sentimento e emoção. 
Vale a pena te amar ou não?
Vale a pena te ter então?
Vale a pena te querer em vão?
A não ser que deixes de ser minha amargura e passes a ser minha esperança pura de um novo amanhã. 
Acredito que te amar é uma loucura sã,
Porque não encontro ternura em teu olhar
Ainda que seja uma realidade dura
Vou ter que deixar de te amar pra encontrar
Quem me procura. 

Assinatura

De repente passei a assinar seu sobrenome ao lado do meu. Um gesto simples mas que na palavra me fez ser sua. O nome do pai são as letras do sangue. O nome do marido é o verbo do amor habitando a persona da mulher escrita.

Eu me sou mais quando escrevo. E quando me escrevo com seu nome ao lado eu te sou. Ou sou como que tua. Como que sua. E seu nome é meu. 

O último nome da mulher é o que ela mais ama. O último homem é o que ela mais ama. Supera o pai. E neste instante ela deseja deste outro homem que ele possa ser o melhor pai para seus filhos. 

Foi natural, mas não sem significado que passei a assinar seu nome. 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Pais, filhos, governos e cidadãos

Acho que alguns governos poderiam ser vistos sob uma ótica psicanilítica. Alguns reduzem os cidadãos à crianças dependentes dos pais (governo) e estes cidadãos desejam ser eternamente crianças (dependentes), como se o governo fosse o único adulto competente, merecedor e responsável por tudo, por cuidar, dar comida, amor, escolaridade, etc. Esses povos jamais serão livres, ao meu ver, porque crescem em tamanho, mas por dentro são crianças desestruturadas e dependentes de uma estrutura externa. Se tornam incapazes de criar sua própria estrutura, que eqüivale a criar o seu próprio mundo e edificar o seu próprio sonho. Sonho? Se tornam incapazes de sonhar. 

Algumas medidas até devem ser tomadas, como um pai que alimenta uma criança que jamais conseguiria se alimentar sozinha. Mas se esse pai se vicia nesta dependência do filho e o impede de crescer e buscar alimento com suas próprias mãos o amor pelo filho se torna uma distorção de amor, esse pai passa a amar o poder que tem sobre o filho e a desejar que esse poder permaneça para sempre e que essa dependência jamais acabe. 

Princesa


Quando entendi bem o que é ser uma princesa
de uma casa, 
Que transita na cozinha e faz bem a mesa
Somente então fui coroada

Uma conjuntivite avermelha os olhos e adoça os dias, de molho em casa, em pazes com livros empoeirados esperando leitura. Reconcilio-me também com as panelas. Arroz com grãos e passas. De molho me ponho a pensar em molhos. Comemos. Vamos andar de mãos dadas pela Av. Paulista. Atraída por um produto específico daqueles que carinhosamente chamo de "hippies da Paulista", entre pulseiras, colares e brincos ele vendia uma coroa. Olhei de perto e percebi que tudo ali era um produto para coroar-se, quem comprasse. Ele foi logo dizendo, "um presente por um sorriso". Imediatamente sorri, pelo que ele disse, não pelo presente. O "hippie" se pôs a trabalhar com uma espécie de arame em cor de zinco. Enquanto isso comentou: "Falta água em São Paulo, não?" respondi que sim, claro, e ele me mostrou os inúmeros carros brilhantes atravessando a avenida naquele instante. Aprendi. Triste constatação. Em seguida ele me coroou com um anel em formato de coroa.

Na simplicidade daquela calçada, depois de uma aula de humanidade e consciência eu pude finalmente ser a princesa que sonhei na infância. 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Sobre Rubem Alves

Tive grandes mestres que inundaram meu coração de amor, com tanta beleza evocada. Rubem Alves foi um deles. Suas palavras me trouxeram uma nova perspectiva sobre uma de minhas grandes paixões: a educação. Ele me conduziu com seus livros por seu pensamento de criança, como quem conduz um carrinho de rolimã, rápida e carinhosamente, sabendo que a alegria do brinquedo é um contato com o sagrado. Foi a primeira vez que compreendi que a literatura é sagrada, a poesia é sagrada e a criança é sagrada. Sonhei com ele uma escola única e deste sonho eu e tanta gente soube da existência da Escola da Ponte, em Portugal, onde jamais estive, mas que visitei com os pés que pisam os sonhos, em seu livro "A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir". Há uns 10 anos li mais de 15 de seus livros. Ainda hoje suas palavras dançam em minha memória como pétalas de inigualável perfume... Uma vez em tantas que o assisti, em uma palestra, ele contou que um leitor chegou a ele e disse: "quem te deu permissão para entrar no meu coração?" E ele continuou dizendo que respondeu:"mas eu não entrei dentro do seu coração, eu entrei dentro do meu coração, e você estava lá!" Jamais esqueci disso, e por ser sua admiradora imaginei que eu também, como aquele leitor de Rubem, vivia em seu coração. Infelizmente não tive a oportunidade de confirmar com ele, mas agora que Rubem está internado no UTI, correndo risco de viver mais e mais, para sempre e eternamente, eu posso declarar minha certeza, não sei se vivo no coração dele, mas ele vive para sempre, muito vivo, no meu. 

(texto escrito em 17/07/2014, dias antes do falecimento dele)

Vida em poema

Meu pensamento às vezes acontece em poemas
São nas frases curtas dos versos
Que às vezes expresso meus eus

Eu teria como iluminação 
Objetivo de alma
Virar eu mesma um poema

Não quero que me escrevam em linhas ou palavras
Não isso
Mas uma vida toda sem elas
Que seja, quando olhada, uma poesia
Que rime repentinamente
Que soe rimas raras, claras, obscuras, densas
Uma poesia da junção de todos os meus dias, horas, segundos
Para rimar com meu próprio universo e próprio mundo,
Onde tão raramente me exponho
Mas por meio dela me ponho 
a ser
eu


Onde vivem os monstros

A conjuntivite me deu o presente.
E o tempo presente me devolveu a literatura. 
E a literatura devolveu minha alma. 
Roubada alma. 

Os monstros que invento são meus. 
Eu me visto deles. 
Eles se vestem de mim
Os monstros que invento tem meu nome e me assombram. 
Eu sonho com eles à noite. 
De dia eles usam minha pele para sair. 

Os monstros são sempre humanos
Agora percebido não os temo
São meus. 

Uma irracionalidade de um antes... 
Julgava os monstros uma outra coisa qualquer. 
Não existe outra coisa qualquer. 
Somente nós. 
.
.
.
Somente eu e todas as outras coisas. 
.
E todas as outras coisas em mim. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Cozinha

A cozinha foi um laboratório feminino por muito tempo. 
Lágrimas misturadas ao feijão. 
Submissão. Submissão. 
Mas, também riso, como tempero
Amor, café coado, 
Bolo de aniversário. 

Olha, filha, pra você quero outra vida. 
Aprende não a cozinhar,
Vá ser princesa. 

Mas no palácio dos anos futuros
Em que a aristocracia mora uma sobre a outra,
E que o castelo vizinho é repleto de cômodos-cubículos
Divide-se o transporte que economiza a escada
E quem não se vira na cozinha
Come miojo ou terceiriza a arte de fabricar delícias
Com grãos e ervas que boas mãos
transformam em cheirosa comida. 

Ah, que vida de princesa mais desnutrida de sentido!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Jornada da vida



A vida é uma jornada, um caminho de pedras ou flores, depende de como você olha e vê. 

Em período eleitoral, mas também na vida...


Se você deseja difamar alguém, baseado em fatos reais, você conseguirá. Se você deseja enaltecer alguém, baseado em fatos reais, você também conseguirá.

Se você deseja contar uma história, baseada em fatos reais, você conseguirá. Se desejar contar uma história completamente oposta, também baseada em fatos reais, você também conseguirá.

Depende de que lado você está, para onde e de onde você olha, o que quer ver e focar, o que valoriza e o que não olha. É por isso que todos tem razão (no que dizem), mas ao mesmo tempo ninguém tem razão (a capacidade de perceber racionalmente que os fatos e as pessoas são dúbios e incoerentes, que não se alcança uma verdade absoluta, que duas pessoas podem dizer verdades opostas sem estar mentindo e por aí vai...)


[texto inspirado na exímia fala do jornalista Ricardo Boechat ao final do debate com os presidenciáveis, ontem]

domingo, 20 de julho de 2014

Carta a Rubem Alves

Voltou tudo, querido, tudo que sempre senti por você, tanta admiração, tanta gratidão, tanto respeito. Você foi um mestre que me fez sentir tanto... Iluminou tantos pedaços do meu coração. Você mudou a minha vida, você me permitiu encontrar meu sonho, você me trouxe coragem. E você nem me conhecia, né, Rubem? Talvez por isso o meu texto preferido que você escreveu é: "Uma árvore para Ladon Sheats". Esta história sobre um amigo distante que você jamais encontrou e mesmo assim compartilharam tanto. Mas nós nos encontramos. Eu o vi muitas vezes, assisti suas palestras e ouvi com muito silêncio tudo que disse em palavras faladas ou escritas e tudo, tudo, tudo reverberou em mim e agora reverbera novamente como se jamais tivesse deixado de ler as histórias que você contou. Quando finalmente tive coragem de abordar você eu o fiz da forma mais aconchegante para mim, escrevendo, como você. Enviei um e-mail, isso deve ter sido em 2003, por aí... Eu compus uma bela sinfonia com o máximo de beleza que me era natural pela inspiração que você me trazia e tinha certeza que teria uma resposta. E a resposta veio, mas tão sucinta diante do meu amor, que julguei não ter sido sua, poderia ser uma resposta automática... Em nosso próximo encontro eu timidamente o abordei, perguntei se você respondia os e-mails e sua resposta foi que lia, mas não conseguia responder a todos e te falei "não, na verdade enviei um e-mail para você e recebi resposta, eu só queria saber se foi você". Então você falou em um tom um tanto quanto aborrecido: "Ah, eu te respondo e você ainda vem me reclamar!" e riu. Fiquei sem graça e não falei mais nada, fiquei só te olhando dar autógrafos para uma fila imensa e sentindo a minha admiração e carência da sua atenção. Eu era mais uma leitora para você, Rubem, você era meu autor preferido... Então, depois de muitos dos seus livros, eu quis conhecer outros autores, muitos dos que você citava, muita poesia, filosofia... Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Nietzsche (seu filósofo preferido) Guimarães Rosa, Adélia Prado, Manoel de Barros, Pablo Neruda, Milan Kundera... E só agora percebo que nenhum, nunca, me tocou tanto como você. Você foi o que mais entrou no meu coração e, mesmo quando achei que já tivesse saído, quando já nem me lembrava mais, você estava lá...

Preciso contar que você esteve comigo nos momentos mais incríveis que vivi. Em 2004, quando saí pela primeira vez, com o grande amor de minha vida, eu trazia na mão dois de seus livros. Em 2011 quando me casei com ele, entre os textos mais lindos que poderíamos escolher para a nossa cerimônia, que aliás foi muito baseada em tudo que você escreveu sobre ritos e casamento, escolhi um texto seu. Ah, Rubem, veja quanto você perfumou a minha vida! O seu amor invadiu tudo, até o meu amor.

Como você fez com Ladon Sheats eu também preciso plantar uma árvore para você, uma árvore com seu nome, um ipê amarelo, diante de uma linda paisagem. Eu também tenho um lugar, com montanhas, lagos, muito verde, pássaros, cavalos e peixes. Como eu ainda não plantei uma árvore para o meu pai, vou plantar para ele também, vou colocá-los lado a lado, você vai gostar dele. Ambos estudaram teologia, filosofia e psicanálise, gostavam de jardins e sonhavam em voltar para as estrelas. Vou fazer isso, Rubem, por você, por ele, e por mim.

****


Estava aqui vendo suas fotos, quando o conheci você já era velho, mas sempre o vi tão menino...
Eu te recebo e te ofereço todos os meus brinquedos, meus sonhos, flores, bolhas de sabão e poemas. O que mais você poderia querer? Uma leitora boba, que mal sabe o que dizer diante de você? Deixarei você a sós, na companhia do vento e de um ipê amarelo. Por favor, continue brincando nos jardins da minha alma, e esqueça que te assisto de longe, e que vivo porque você brinca.

Aline Ahmad





terça-feira, 8 de abril de 2014

Em processo de ampliação de consciência


Se você encontra uma pessoa conhecida na rua e ela faz uma determinada cara quando te vê, você pensa: "Por que será que ela fez essa cara? Será que ela gosta de mim? Será que ela não gosta? Será que ela me acha feio? Será que ela gostou de ter me encontrado? Será que ela percebeu que eu não gosto dela?" Enfim, qualquer pensamento. Neste caso acontece tudo, menos um encontro verdadeiro de aceitação à pessoa, à vida e à si mesmo.

Em um relacionamento (de família, de amor, de amizade, etc) esses pensamentos podem ser ainda mais destruidores, porque eles não são reais e nos impedem de viver o momento, de viver o encontro, de realmente estar inteiro e receber o outro na sua inteireza particular em um processo de aceitação (que envolve aceitar e amar a realidade do jeito que ela é), estando presente. É muito gostoso estar em contato com essa energia. 


O aborrecimento, o ciúme, a raiva, etc., podem durar um segundo, são emoções fluídas como todas as outras (como os pensamentos) a ideia é aceitar essa emoção (ou esse pensamento) e deixar fluir sem se apegar. O sofrimento está no apego que temos à essas emoções e pensamentos venenosos... Se você se sente apegado a pensamentos ou emoções negativas é uma oportunidade para olhar para esse apego. Ou seja, ao invés de pensar: "esta pessoa está me traindo" escolher pensar "eu sou uma pessoa que se sente traída diante de tal situação". Ao invés de pensar "que pessoa irritante!" escolher pensar "eu sou uma pessoa irritável". Ao invés de olhar para o outro olhar para si mesmo. Somos a única possibilidade de mudança que existe.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Vivo

Um poema não é uma coisa planejada, programada.
Um poema é um ser vivo.
Às vezes me empresto a ele.
Ele vem e se presta a mim.