sábado, 25 de fevereiro de 2017

Olho-te uma vez mais

Olho-te uma vez mais e tua beleza ainda me invade. Tens o aroma antigo de mulheres e homens, tens a pálpebra de dentro aberta, quando a de fora se encerra em silêncio. Os muitos sons que te contemplam não rompem teu mistério e encanto, nem corrompem tua luz. És tudo e nada. 

Contigo encontro-me. 

Até o nosso próximo encontro!

#alinenaíndia #incredibleindia #laxmanjhula

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Ganges

Te olho como quem vislumbra um sonho dourado, há um apreço por tua transparência renegado no tempo, tens levado de mim tanto que pouco sei do que se foi e já nem mais me reconheço. Ainda te descubro desbravando horizontes, confundindo-te com o céu. Não és só um reflexo, o céu é que é, em tuas águas. [E eu, também, que tenho sido apenas reflexo]. Nossa existência se funde e sei que também me olhas, me vês mais completa do que me sinto e me renovas em teu amor divino. Lançamos nossos mil beijos, nossos mil abraços neste instante, em todos os instantes. Lançamos nossas vidas neste vento redentor. Uma vida que nunca acaba. Recomeça. A cada olhar. Pois aqui te olho de novo. 


#alinenaíndia #rishikeshi #incredibleindia

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Aos 36

Horas atrás foi o dia do meu aniversário. 
É preciso rever o que eu vivi. Já são 36 anos, mas ainda não me sinto velha, nem perto disso, como não considero velhos os que têm o dobro da minha idade. Acumular anos não é tornar-se imprestável, como a velhice já foi vista. A idade traz sim uma sabedoria. Embora o mundo valorize o jovem, acho que eu nunca fui tão boba quanto quando era "jovem". A sabedoria mora nos extremos da vida, infância e velhice e eu sou grata por parte dela ter me visitado aos 30 e poucos, não sei exatamente quando, mas eu tenho florescido. 
A flor é a ejaculação da planta, a exuberância da beleza que precede o fruto. Eu tenho florescido. Um florescimento que pode durar uma vida toda (ou mais!?) e mesmo neste processo eu tenho gerado frutos. Tudo que escrevo e que sai do meu coração; as palavras que passam pela minha boca como expressão do meu ser; os atos por mim praticados que geram frutos em outras pessoas, por intervenção da minha relação com elas, do amor que reverbera do nosso encontro, da luz que se celebra em uma alma e outra, de uma alma para outra. Enfim percebo que os frutos não são meus, mas da árvore (ou floresta) "humanidade", a qual me sinto pertencer, porque tenho florescido. 
Eu tenho florescido e vejo mais beleza no mundo e em mim mesma. Há flores que são sementes, vejo que um fruto aconteceu antes, para que a semente pudesse existir. E estas flores são belas, na semente que elas sabem ser, e eu uma privilegiada por vê-las neste instante do crescimento, quando elas nem imaginam a beleza que sairá delas mesmas, então às vezes são duras, como algumas sementes precisam ser para sobreviver. Mas há a incandescência (a indecência!) dos pequenos brotos, dos botões prestes a se abrir e há as flores que me mostram perfume, ou que me permitem saborear seus frutos e me alimentar de sua existência. Ah, como são lindas as pessoas a minha volta! Tenho florescido e visto, não o tempo todo, confesso, mas meu florescimento é conseguir ver e o florescimento dos outros é conseguir me ver... Mesmo quando não consigo ver...
Eu aceito vida! Eu agradeço por tudo que tenho recebido, por tudo aquilo que já compreendo, e por tudo aquilo que ainda não posso compreender, pois eu tenho florescido, mas não sei sobre tudo ainda, nem sequer sinto todo amor e beleza disponíveis neste Universo tão vasto, tão próspero... A natureza não economizou em nada. Ela me invadiu e, até por isso, por vezes eu não suportei tanto deslumbre, eu me fechei.
Neste ano, que se iniciou aos meus 35, no dia 18 de fevereiro de 2014 (com um sarau comemorativo em que fui muito feliz compartilhando minhas poesias e recebendo o talento de tantos amigos) e se finalizou no dia 17 fevereiro de 2015, eu vivi muita coisa: muitos retiros; muitos contatos com o silêncio e comigo mesma; eu consegui um editora para publicar meu primeiro romance (um projeto antigo que tenho sonhado há quase 30 anos!); eu iniciei um processo de transformação da escola que sempre foi minha mas que eu ainda não tinha conquistado; eu experimentei o que é ter um guru, um mestre espiritual, uma guiança de luz e amor infinitos... Eu compreendi tantas coisas de que nem fazia ideia!
Eu reconheci meus dons e meus talentos, que são as ferramentas que tenho para fazer o que eu vim fazer nesta vida. E à partir deste contato interno eu me conectei com todos ao meu redor, eu reconheci o talento das pessoas e a riqueza de tê-las comigo. 
Não há como perceber a si mesmo sem que se perceba os outros. E também não há como perceber os outros sem se perceber. 
Até que, por lampejos de consciência, eu concluo, em alguns instantes da minha existência, que "os outros" são também uma manifestação, uma criação minha, da minha vida, pelo menos esta forma de vê-los e percebê-los é uma expressão do meu próprio ser, que nada mais é que um ser único e maior: a mesma árvore, a mesma floresta!

É, meu Deus, tenho florescido! Obrigada!

(Escrito em 19/2/2015)

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Abraço do tempo

Eu sou essa intensidade toda que gela, resfria, invade e arrasta. Toda a força nasce de mim e se potencializa em mim. Sou o grande ser, regente do meu próprio universo, recebo o brilho das estrelas, o calor do sol, o perfume das flores, a fluidez do rio, em mim. Sou uma vida oceânica, efervescente, potente. Trago meus tesouros preciosos no olhar e muitos sorrisos verdadeiros para oferecer ao mundo. Eu me escondo e me mostro conforme a dança do vento, que é o movimento do meu espírito em mim, eu me revelo quando tenho a segurança da terra abrindo espaço para minha raízes firmarem seu caminho de teias no solo fértil da humanidade. Sou o que se recolhe no abraço do tempo, o que abre os braços para acolher e sou também o próprio abraço da essência. Estou no seio do mundo que amamenta todas as bocas com o leite da mesma mãe: o amor. Estou nas águas que me habitam, que me lavam, que me elevam. Renasço nas águas sagradas. 38 anos de vida esse corpo. Quantos anos essa alma?

(19/2/2017 o texto - Rishikeshi - foto do banho no Ganges no dia do meu aniversário, texto escrito aguardando o Paulo na livraria)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Delhi



Chegamos em Delhi, cidade que adoro. Um tanto quanto caótica e suja (dependendo do lugar, talvez a maior parte), mas também com sua beleza e charme. É como uma aproximação da realidade, nada aqui me parece falso, parece tudo de verdade. As pessoas, o trânsito, as cores, o cheiro, a sujeira, a beleza... É um golpe caloroso chegar na Índia. Eu me emociono mais, me divirto mais, fica tudo forte e intenso. Muita vida vibrando. 

#alinenaíndia


terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Brilhos de Mistério

Há um instante em que eu e o mundo somos um


Há um instante em que eu e o tempo somos um


Um instante fora do tempo e do mundo 


Um instante de comunhão com o que sou. Apenas sou. 


De minhas mãos saem as palavras que não digo, escrevo. 


Sobre elas não penso, expresso. 


Saem de mim como estrelas cadentes vindas de outra galáxia. 


Estão de passagem por meu texto. 


São brilhos de mistério que se revelam em meu papel, mas se vão...


(Foto: Wat Arun - Bangkok, Tailândia)

 *poema: Brilhos de Mistério 

~ 6:51 AM ~ 8/2/2017, em Bangkok


Mistérios da Tailândia

Ainda que eu dissesse de tuas cores, ainda que contasse teus detalhes, mesmo na divindade de um silêncio, ninguém saberia do que falo. 


Ainda recoberta de tua beleza, ainda extasiada de teu encanto, ainda que eu roubasse teu mistério, o que é teu não seria compartilhado (senão por ti mesmo). 


Pois está em tua beleza teu segredo, acima das visões possíveis por retrato. E nele revelado eu me perco. E volto a procurar-te extenuado. 


(Mistérios da Tailândia | 6:42 AM ~ Bangkok ~ 8/2/2017) *foto Grand Palace


Aprofundando a viagem

Eu adoro compartilhar as minhas experiências, especialmente as viagens, pela internet. 

Enquanto escrevo para os outros eu também reflito para mim mesma. É como intensificar o sentido de cada acontecimento. Tenho que aprofundar um pouco o olhar para ter o que contar. Paradoxalmente, mesmo escrevendo para pessoas que estão distantes, me sinto mais próxima das pessoas do lugar quando tenho o estímulo de uma companhia ampliada que necessita da minha descrição para se sentir viajando comigo. Há o impulso da escritora que mora em mim, que quer levar o leitor há muitos lugares, sobretudo a si mesmo. E quanto mais dentro de um outro país, de uma outra localidade, mais dentro do outro e mais dentro de mim eu me encontro. Então: nós nos encontramos. Sem distâncias. 

(Bangkok | Tailândia ~ vista da roda gigante do Asiatique  ~)


sábado, 4 de fevereiro de 2017

O que vale a vida

Entre mim e o mundo há uma distância inteira
Eu estou fora dele
Por isso o observo de longe
Com cautela de pedra
Eu me reservo ao que imagino
Não me firo com as mentiras
Tão pouco me alegro
Não sou alma
Sou embalagem de carne

Mas se eu respiro 
O ar me penetra por dentro
É um sopro de vida clareando o vácuo escuro. 
Se eu respiro o ar do mundo
Ele vive no meu colo
Sinto dor e também rio
Meu êxtase é tão completo
O sofrimento também 

Sabedoria adivinha que qualquer hora desisto por não suportar alegria sem desmesuras
Uma hora preciso voltar ao conforto da não existência 
Parece que foi de lá que eu vim 
É que foi lá que eu me inventei
Depois achei que eu era isso. 
Assim fui ficando. 

Restam as efêmeras lembranças. 
Elas já valem a vida. 
(Em 3/2/2017 às 21:29)

Aquele abraço

Quem se lembra do primeiro dia de aula? Eu me lembro de ficar ansiosa todos os anos, contar os dias, imaginar quem seriam os novos amigos e se aquela pessoa especial continuaria na escola. Jamais estive distante dos primeiros dias de aula da escola em que estudei. Como aluna este tempo durou de 1986 a 1996. Depois disso vivi alguns primeiros dias na faculdade e então voltei a passar esta data na Av. Esperança 191 (endereço do Colégio Nahim Ahmad), desta vez do outro lado da história, aguardando os alunos, recebendo a ansiedade, o sorriso e o carinho deles; preparando tudo muito antes das aulas começarem. E o ano começou hoje pra gente. Para mim sela um trabalho muito intenso de planejamento, de captação de alunos, de ajustes, e também de entrega e de amor. ❤️ Eu descubro e reverencio talentos o tempo todo. Eles brilham nos olhares dos jovens e crianças com quem convivemos, mas nascem também do meu time, dos professores e colaboradores que temos e que plantam comigo esse jardim imenso e florido, com nossos sonhos em comum. Eu me surpreendo sempre com algo que ainda não tinha visto ou notado. Tanta luz, tanta entrega, tanto comprometimento! Às vezes me questiono se eles se dão conta, sei que não, pois eu mesma que observo não estou atenta sempre. É tão bom estar entre essas pessoas e ao lado delas oferecer esse abraço, mas também ganhar esse abraço! O abraço é esse elemento mágico que a gente só recebe enquanto dá e só dá enquanto recebe, pois o abraço se completa no outro. 

O abraço é uma metáfora da educação. O saber transmitido só fica inteiro nos braços do outro (e isso acontece quando o conhecimento está preenchido por verdade, por amor). Então acontece a mágica. A gente entrega e recebe também! Sempre volta. (Como os alunos voltam). Que bom!!!🙏🏻❤️🙏🏻❤️

#somosahmad #colegioahmad #brilhaahmad #vemproahmad


Eu e Exupery, meu príncipe

A minha história com "O Pequeno Príncipe" começa quando eu era criança e Antoine de Saint-Exupéry já não existia mais. A delicadeza com que ele contou a história e expressou seus pensamentos à respeito das crianças e das incoerência humanas presentes, sobretudo, no mundo adulto, ecoaram em mim. Pela primeira vez eu senti aquilo que sentimos diante das obras que nos tocam. É como se o artista em questão entrasse dentro de nós e reproduzisse o que está escrito no âmago de nosso coração. Sain-Exupéry tinha lido e reescrito todas as minhas linhas... Cresci e reli aquelas palavras inúmeras vezes e foi como se tivessem se tornado mágicas. Através delas eu podia me reconectar com a criança que fui e também enxergar a adulta que estava me tornando. Desde então, tal qual o autor, eu tinha paixão por crianças menores que eu e uma arrogância natural, já que eu era uma e acreditava serem estes (as crianças) os seres mais puros, inteligentes e especiais do planeta, embora absolutamente subestimados, menosprezados e desacreditados pelos adultos. Uma ideia um tanto romântica, mas ainda vigente em mim. Acabou que nasci em uma família de educadores que tinha uma escola (Colégio Nahim Ahmad) que hoje é também administrada por mim (ao lado de minha irmã Andreza e de uma equipe incrível, com os pitacos bem-vindos de minha mãe - às vezes não tão bem-vindos...rsrs) e temos como concorrente uma escola com o nome do meu livro preferido. Isso me impede de pintar as paredes do colégio com as aquarelas de Antoine e suas poéticas frases... E mais triste ainda é que esta escola nem aproveita a verdadeira beleza da obra, porque tem o formato de um castelo e todos que leram o livro sabem que o verdadeiro reinado do Pequeno Príncipe era tão somente seu pequeno planeta e sua rosa, uma única e singela rosa, que justificava tudo, inclusive toda a história. Hoje visitei a Exposição sobre o livro no Shopping JK Iguatemi e me dei o direito de tirar muitas fotos e me emocionar. Exupéry se quisesse poderia entrar de novo dentro do meu coração ler e reescrever seu livro novamente. Sairia idêntico, palavra por palavra.
(Escrito em 4/2/2014)