sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Pessoa Humana

Existe um pleonasmo muito bem-vindo, que é quando dizemos "pessoa humana", como se a humanidade pudesse habitar duas vezes o mesmo lugar.

O Direito e a Vida

Vim prestigiar minha amiga Renata da Rocha, em sua palestra na PUC, ao lado da Profª Maria Garcia. Eu estudei Direito, mas isso foi em uma outra vida, quando eu esqueci de ser...

A palestra dela foi brilhante! Estou agora a refletir. O Direito existe por causa da humanidade, por causa da vida e é também uma forma de preservá-la, protegê-la, mas quando ele se distancia da vida para se tornar uma ciência abstrata ele se esvazia. É preciso gente, alma, pra devolver ao Direito a vida e para devolver o Direito à vida. 

Minha amiga Renata faz isso muito bem. O Direito de suas palavras é vivo. 

Vida

A coisa mais interessante do mundo é a vida. 
Quando é possível compreender a relação com a vida tudo pode ser interessante.

Mas o que é a vida?

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Quem me procura

Na minha adolescência eu tinha muitos amores platônicos e era muito tímida. Eu já amava escrever, que era o único lugar de refúgio para todo o sentimento não expressado que morava em mim. Meus poemas contavam meus amores não vividos, tudo aquilo não realizado na vida, emitido somente em palavra. Quando me perguntavam para quem eu os escrevia, nem eu mesma sabia, era para um "outro" sonhado, que eu sequer conhecia, alguém que eu estava à procura. Mas se eu o procurava imaginei que ele também estava à minha procura. Então escrevi esse poema:

QUEM ME PROCURA

É muita amargura
Porque pra mim o teu olhar tem tal fissura
Que meu maior medo é do teu pranto
Derramando-me lágrimas que gritam
Tanto quanto gritam os que choram,
Tanto quanto choram os que por ti tem tal encanto
Choram porque te olham e não te encontram
Choram pelo medo e pela dor de te amar
Choram como eu choro
A desejar cada segundo do teu tempo
Meu maior desejo?
É estar em teu mundo e me encher de encantamento. 
Porque teu beijo é meu momento de ilusão 
É que o traduz e cristaliza sentimento e emoção. 
Vale a pena te amar ou não?
Vale a pena te ter então?
Vale a pena te querer em vão?
A não ser que deixes de ser minha amargura e passes a ser minha esperança pura de um novo amanhã. 
Acredito que te amar é uma loucura sã,
Porque não encontro ternura em teu olhar
Ainda que seja uma realidade dura
Vou ter que deixar de te amar pra encontrar
Quem me procura. 

Assinatura

De repente passei a assinar seu sobrenome ao lado do meu. Um gesto simples mas que na palavra me fez ser sua. O nome do pai são as letras do sangue. O nome do marido é o verbo do amor habitando a persona da mulher escrita.

Eu me sou mais quando escrevo. E quando me escrevo com seu nome ao lado eu te sou. Ou sou como que tua. Como que sua. E seu nome é meu. 

O último nome da mulher é o que ela mais ama. O último homem é o que ela mais ama. Supera o pai. E neste instante ela deseja deste outro homem que ele possa ser o melhor pai para seus filhos. 

Foi natural, mas não sem significado que passei a assinar seu nome. 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Pais, filhos, governos e cidadãos

Acho que alguns governos poderiam ser vistos sob uma ótica psicanilítica. Alguns reduzem os cidadãos à crianças dependentes dos pais (governo) e estes cidadãos desejam ser eternamente crianças (dependentes), como se o governo fosse o único adulto competente, merecedor e responsável por tudo, por cuidar, dar comida, amor, escolaridade, etc. Esses povos jamais serão livres, ao meu ver, porque crescem em tamanho, mas por dentro são crianças desestruturadas e dependentes de uma estrutura externa. Se tornam incapazes de criar sua própria estrutura, que eqüivale a criar o seu próprio mundo e edificar o seu próprio sonho. Sonho? Se tornam incapazes de sonhar. 

Algumas medidas até devem ser tomadas, como um pai que alimenta uma criança que jamais conseguiria se alimentar sozinha. Mas se esse pai se vicia nesta dependência do filho e o impede de crescer e buscar alimento com suas próprias mãos o amor pelo filho se torna uma distorção de amor, esse pai passa a amar o poder que tem sobre o filho e a desejar que esse poder permaneça para sempre e que essa dependência jamais acabe. 

Princesa


Quando entendi bem o que é ser uma princesa
de uma casa, 
Que transita na cozinha e faz bem a mesa
Somente então fui coroada

Uma conjuntivite avermelha os olhos e adoça os dias, de molho em casa, em pazes com livros empoeirados esperando leitura. Reconcilio-me também com as panelas. Arroz com grãos e passas. De molho me ponho a pensar em molhos. Comemos. Vamos andar de mãos dadas pela Av. Paulista. Atraída por um produto específico daqueles que carinhosamente chamo de "hippies da Paulista", entre pulseiras, colares e brincos ele vendia uma coroa. Olhei de perto e percebi que tudo ali era um produto para coroar-se, quem comprasse. Ele foi logo dizendo, "um presente por um sorriso". Imediatamente sorri, pelo que ele disse, não pelo presente. O "hippie" se pôs a trabalhar com uma espécie de arame em cor de zinco. Enquanto isso comentou: "Falta água em São Paulo, não?" respondi que sim, claro, e ele me mostrou os inúmeros carros brilhantes atravessando a avenida naquele instante. Aprendi. Triste constatação. Em seguida ele me coroou com um anel em formato de coroa.

Na simplicidade daquela calçada, depois de uma aula de humanidade e consciência eu pude finalmente ser a princesa que sonhei na infância. 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Sobre Rubem Alves

Tive grandes mestres que inundaram meu coração de amor, com tanta beleza evocada. Rubem Alves foi um deles. Suas palavras me trouxeram uma nova perspectiva sobre uma de minhas grandes paixões: a educação. Ele me conduziu com seus livros por seu pensamento de criança, como quem conduz um carrinho de rolimã, rápida e carinhosamente, sabendo que a alegria do brinquedo é um contato com o sagrado. Foi a primeira vez que compreendi que a literatura é sagrada, a poesia é sagrada e a criança é sagrada. Sonhei com ele uma escola única e deste sonho eu e tanta gente soube da existência da Escola da Ponte, em Portugal, onde jamais estive, mas que visitei com os pés que pisam os sonhos, em seu livro "A escola que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir". Há uns 10 anos li mais de 15 de seus livros. Ainda hoje suas palavras dançam em minha memória como pétalas de inigualável perfume... Uma vez em tantas que o assisti, em uma palestra, ele contou que um leitor chegou a ele e disse: "quem te deu permissão para entrar no meu coração?" E ele continuou dizendo que respondeu:"mas eu não entrei dentro do seu coração, eu entrei dentro do meu coração, e você estava lá!" Jamais esqueci disso, e por ser sua admiradora imaginei que eu também, como aquele leitor de Rubem, vivia em seu coração. Infelizmente não tive a oportunidade de confirmar com ele, mas agora que Rubem está internado no UTI, correndo risco de viver mais e mais, para sempre e eternamente, eu posso declarar minha certeza, não sei se vivo no coração dele, mas ele vive para sempre, muito vivo, no meu. 

(texto escrito em 17/07/2014, dias antes do falecimento dele)

Vida em poema

Meu pensamento às vezes acontece em poemas
São nas frases curtas dos versos
Que às vezes expresso meus eus

Eu teria como iluminação 
Objetivo de alma
Virar eu mesma um poema

Não quero que me escrevam em linhas ou palavras
Não isso
Mas uma vida toda sem elas
Que seja, quando olhada, uma poesia
Que rime repentinamente
Que soe rimas raras, claras, obscuras, densas
Uma poesia da junção de todos os meus dias, horas, segundos
Para rimar com meu próprio universo e próprio mundo,
Onde tão raramente me exponho
Mas por meio dela me ponho 
a ser
eu


Onde vivem os monstros

A conjuntivite me deu o presente.
E o tempo presente me devolveu a literatura. 
E a literatura devolveu minha alma. 
Roubada alma. 

Os monstros que invento são meus. 
Eu me visto deles. 
Eles se vestem de mim
Os monstros que invento tem meu nome e me assombram. 
Eu sonho com eles à noite. 
De dia eles usam minha pele para sair. 

Os monstros são sempre humanos
Agora percebido não os temo
São meus. 

Uma irracionalidade de um antes... 
Julgava os monstros uma outra coisa qualquer. 
Não existe outra coisa qualquer. 
Somente nós. 
.
.
.
Somente eu e todas as outras coisas. 
.
E todas as outras coisas em mim. 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Cozinha

A cozinha foi um laboratório feminino por muito tempo. 
Lágrimas misturadas ao feijão. 
Submissão. Submissão. 
Mas, também riso, como tempero
Amor, café coado, 
Bolo de aniversário. 

Olha, filha, pra você quero outra vida. 
Aprende não a cozinhar,
Vá ser princesa. 

Mas no palácio dos anos futuros
Em que a aristocracia mora uma sobre a outra,
E que o castelo vizinho é repleto de cômodos-cubículos
Divide-se o transporte que economiza a escada
E quem não se vira na cozinha
Come miojo ou terceiriza a arte de fabricar delícias
Com grãos e ervas que boas mãos
transformam em cheirosa comida. 

Ah, que vida de princesa mais desnutrida de sentido!

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Jornada da vida



A vida é uma jornada, um caminho de pedras ou flores, depende de como você olha e vê. 

Em período eleitoral, mas também na vida...


Se você deseja difamar alguém, baseado em fatos reais, você conseguirá. Se você deseja enaltecer alguém, baseado em fatos reais, você também conseguirá.

Se você deseja contar uma história, baseada em fatos reais, você conseguirá. Se desejar contar uma história completamente oposta, também baseada em fatos reais, você também conseguirá.

Depende de que lado você está, para onde e de onde você olha, o que quer ver e focar, o que valoriza e o que não olha. É por isso que todos tem razão (no que dizem), mas ao mesmo tempo ninguém tem razão (a capacidade de perceber racionalmente que os fatos e as pessoas são dúbios e incoerentes, que não se alcança uma verdade absoluta, que duas pessoas podem dizer verdades opostas sem estar mentindo e por aí vai...)


[texto inspirado na exímia fala do jornalista Ricardo Boechat ao final do debate com os presidenciáveis, ontem]