sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O Caminho da Comunicação Não-Violenta

Ontem, 1º de outubro de 2016, acordei cedo, um pouco mais inspirada e impactada que o normal. Fruto da noite anterior. Segui para dar continuidade ao workshop de Comunicação Não-Violenta, com Dominic Barter. No caminho (a vida toda é esse caminho, mesmo quando não o noto) passei por pessoas que tinham acordado de mais uma noite dormida embaixo de um viaduto. Olhei para elas e por algum motivo eu senti que "via" aquela existência tão distinta da minha (algumas palavras às vezes precisam de aspas para que seu sentido seja reforçado após o desagaste do uso). Eu via, notava, sentia e percebia o humano em nós, o que me separava e me unia a elas. Segui meu caminho mais presente de mim mesma e delas. 
Ontem também foi o primeiro dia do Navaratri, o festival da cultura védica que comemora/revive o embate de 9 dias da deusa Durga com um demônio Mahisha que se divide em centenas de outros demônios, uma batalha que acredita-se acontecer também internamente e sistemicamente. 
A comunicação não-violenta tem sua origem também nesta cultura. "Ahimsa" uma palavra para determinar aquilo que não é violência, justamente porque aquilo que é a não-violência, de tão sublime, não pode ser denominado. Como se o nome, ou palavra, fossem diminutos demais para determinar um conceito que está além do que se pode ser dito ou escrito. Assim, falar de comunicação não-violenta, em sua origem, é falar de algo sagrado, que nos estimula a falar (não com a boca, mas com todo o corpo, incluindo nossos silêncios, sangue, carne, olhar) do sagrado em nós (do secreto em nós!) que não costuma ser dito, ou exposto. 
Martin Luther King dizia que começamos a morrer quando deixamos de falar sobre as coisas que importam. Concluo que falar sobre o que nos importa traz potência à vida. Acorda o sagrado.
Acorda a religiosidade, em seu caráter original [de acordo com sua etimologia]: religar. Reconectar. Assim me sinto. 
Ontem os "demônios" morreram um pouco. Em pleno primeiro dia de Navaratri a espada de Durga cortou a cabeça do búfalo que Mahisha havia se tornado, mas de cada gota de sangue outros demônios se personificavam. Então a deusa na forma de Kali bebe todo esse sangue e finca sua espada no coração de Mahisha, o egoísmo.
Nossos demônios são mortos quando são reconhecidos e integrados. O demônio do outro se dissolve quando vejo que o mesmo demônio existe em mim. Estou tão ligada ao outro, mesmo que não veja ou perceba isso sempre, que não há como não impactá-lo e não ser impactada. O inimigo é meu próprio egoísmo e isolamento que me separa dele e de mim. Que não quer penetrar ou beber daquilo que o outro é, ou daquilo que eu sou. É bebendo do outro que minha potência se revela. 
O caminho para a verdade. 

#DominicBarter #CNV #comunicaçãonãoviolenta

Um barquinho de papel no oceano

Amado Guruji:
Eu compreendi o que me faz amar você: é o seu amor por mim!
O seu amor desata os nós do meu coração e permite o fluir do amor (por você) de uma forma que eu não saberia mensurar. Então o meu amor por você vai invadindo tudo que há em volta. Vai preenchendo de amor a minha relação com meu pais, com minhas irmãs, com meu marido, com as pessoas que trabalham comigo, com a natureza, com o céu, com o sol, a lua e as estrelas... Eu simplesmente sinto esse amor, como um presente que seu olhar me dá. Como uma joia preciosa que recebo em seu sorriso. E, de repente, acontece um fenômeno. Sou capaz de receber o amor que você oferece ao mundo. Eu recebo o olhar e o amor que flui do seu coração para todas as direções, eu sinto sua mão tocar a minha cabeça, quando você acolhe qualquer outra lágrima que não seja a minha. Pois é como se o mundo todo fosse eu e você. E também recebo seu amor em todas as pessoas, e todas as coisas, nas flores perfumadas que você envia pelo caminho onde andam meus passos, nos raios de sol que tocam as folhas das árvores formando desenhos de amor pela minha jornada, eu vejo se aproximarem de mim pessoas que me trazem o seu sorriso, o seu carinho, o seu amor... E vejo todas as lições que você me ensina, sem palavras, mesmo quando aparentemente não está comigo. Só aparentemente, pois você está comigo sempre, misturado a mim... Você é sim o meu coração, o mais puro do meu ser, e essa é a maior alegria da minha vida, a minha maior gratidão, o encontro mais valioso, a revelação que me encerra e me inicia, a descoberta brilhante e doce da minha história. 

Então te envio esta mensagem, como que escrita em um barquinho de papel que eu lanço neste oceano de vida que nos une. ❤️ 
18/07/2016

#sriprembaba #prembaba #paidoamor

Primeiro caderno

Em tempos de muita tecnologia ainda sou dessas que coleciona cadernos. Fica em cada linha um pedacinho do meu ser espalhado, remoído, vivido, sonhado. 

No Colégio Nahim Ahmad valorizamos esse símbolo de tanto afeto, eternizado na música "O caderno", de Toquinho. 

Aprendi a gostar de suas páginas através da ternura de duas mulheres e um homem. Ele era meu avô, que anotava em seu caderno de brochura a contabilidade de seus negócios. Eu nem sabia ler, via naquelas letras e números um traço único que subia e descia na linha. Eu gostava de rabiscar uma folha para imitar. Uma das mulheres foi minha mãe, professora, com pilhas de cadernos para corrigir e uma doçura em querer me introduzir na escrita. A terceira foi minha professora da segunda série. Com muita sensibilidade, ela decorava a lousa com frases, flores e estrelas, eu fazia o mesmo no meu caderno e aquele objeto virava jardim e luz, uma lembrança etérea da criança que fui e sou. 
Anos depois esta professora foi reconhecida, passou a coordenar a equipe de professores e por seus olhos claros e brilhosos resolveu através de invenções que saíam de seu coração no formato de ideias para os alunos. Uma de suas primeiras iniciativas foi criar um dia solene para o recebimento do "Primeiro Caderno": o momento mágico de transformação do instante em história, do momento em trajetória. 

Os alunos do Pré I fazem as atividades em folhas solteiras, soltas uma da outra, não há início, não há fim, só presente. Até que recebem o primeiro caderno, ali ficarão os primeiros registros, os primeiros progressos. Um caderno que os seguirá "do primeiro rabisco até o bê-a-bá".

A professora que tive é hoje a diretora do colégio, Alzira Torrado. Ela manteve as delicadezas que sempre criou para o calendário de eventos anuais da escola. Neste sábado, os alunos do Pré I vão receber das mãos dos veteranos, do Pré II, o primeiro caderno. 

Esta é mais uma ideia inspirada e bonita, de nossa diretora Alzira, que eu aplaudo com toda admiração, a mesma da criança de tranças que olhava a sua lousa, a "muitos-alguns" anos atrás. 

Amigas

Eu tinha 5 anos quando fui para escola pela primeira vez. Até então eu brincava com minha irmãs, menores que eu. Quando conheci uma ruivinha, carioca, descolada e risonha percebi que ela tinha uma segurança que eu ainda não sabia o que era. Nasceu uma admiração e uma amizade. Acho que também dividíamos uma paixão: Eduardo Alexandre.  Michelle Lima era seu nome. Mas eu nunca mais a vi, não sei se foi ela ou eu quem saiu da escola antes. Lá se foi uma infância de saudade da amiguinha. 
Então conheci Sabrina, aos 7, depois Tatiana Mendonça, aos 9, (as procuro até hoje), todas admiráveis, cada uma a seu modo. Sabrina criativa, completava os desenhos que pintávamos com árvores e flores diferentes. Eu copiava. Tatiana era estudiosa, educada, bailarina...
Anos depois finalmente pude estudar de manhã, meus pais preferiam à tarde. Tantos colegas novos, entre eles uma amizade antiga, tínhamos estudado juntas na infância, mas já éramos adolescentes. Era o único rosto conhecido, Georgia Regina, ela era linda, popular, eu, tímida, a seguia o tempo todo. Acho que isso a irritava. Era um peso. Com 13 anos estávamos descobrindo os relacionamentos (acho que bem mais ela do que eu). Eu a admirava também. Mas me sentia diferente e excluída. Minha salvação foram as doces Gabi, Pity e Juliana Juliana Reis Moreira. Uma vez nos lambuzamos uma a outra cheirando shampoos no supermercado. Tudo era motivo de muita risada. 
Por volta dos 15 anos resolvi fazer um curso diferente, eu já era outra, queria amigos novos que não me vissem com olhos viciados pelo passado. Conheci a linda Gláucia Lucas. Eu, ela, Regina Videira e Lilian éramos um grupo animado e unido. Pela primeira vez, além de admirar minhas amigas eu sentia que eu também era admirada e querida. Fui muito feliz com elas. Lembro de sairmos para dançar juntas e nos divertirmos muito indo pra escola no dia seguinte, quase sem dormir. 
Na faculdade passei de novo pelo desafio de conhecer amigas. Helen Carvalho e Juliana Cavalcante eram altas, magras, atraentes para os rapazes. Recebi delas proteção ( Helen me defendia de tudo e de todos) generosidade, amizade, carinho... 
Depois de me formar retomei uma amizade de escola, antiga, mas que não tinha sido uma amiguinha e sim minha professora da 2ª série Alzira Torrado, a sua torcida por mim e a minha por ela nos tornou confidentes. O mesmo aconteceu, naturalmente, quando conheci Renata. Relação pautada por admiração mútua, afinidades filosóficas e poéticas, assuntos que sempre nos uniram e reuniram, na história de nós. 
❤️🙏🏻
Olhando para a história da minha amizade com o feminino concluo que mais admirei do que fui admirada, mais recebi do que me senti doando. Recebemos o que entregamos. 🙏🏻

Concluo, também, que a escola é o grande palco para o encontro das amizades. Por isso é tão importante. Pois a escola passa, as amizades ficam 🙏🏻❤️

Sou muito grata às amizades que tive, mulheres que marcaram minha vida. Sem as experiências com elas eu seria outra pessoa. 

(Ainda falta contar sobre as vizinhas Daniela Portela e as Kurita: Luciana, Thais e Emi. ❤️🌸)

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

GPS da alma

Há alguns anos eu comecei a compartilhar alguns insights da minha busca por autoconhecimento. 

Está é, sobretudo, uma jornada interna. É preciso atravessar dores do passado (são sempre elas que plantam o sofrimento do presente), porém por serem as "raízes", na maior parte estão em áreas de difícil acesso consciente, protegidas por camadas de amortecimento, esquecimento e apego. É isso que fazemos com a dor, não é? Escondemos em porões escuros, para ninguém ver, principalmente nós mesmos, para não sentir. 


Só que junto com a dor negada está a nossa essência, a espontaneidade, também condenada aos porões do nosso ser, pois é só na liberdade do que realmente somos que sentimos a vida inteiramente. Só assim somos feridos, mas também só assim abrimos nossos canais para receber amor, alegria, união. Se nossos canais estão fechados, se nossos sentimentos estão reprimidos, vivemos uma vida artificial. 

Meio-sorrisos, meias-alegrias, meios-amores, meios-relacionamentos, meias-entregas... Nada é inteiro e vivo. 


Até que alguns raios de luz, lampejos de consciência, atravessam as frestas das portas que protegem o porão. Somos banhados por uma luminosidade, por instantes, que, às vezes ilumina a nossa dor, parece que vamos morrer (quando na verdade é só um sinal que ainda estamos vivos mesmo após tanto amortecimento), ou então, ilumina a nossa alegria, o amor, somos capazes de sentir novamente um prazer puro, um gosto de infância feliz, de abraço verdadeiro, de amizade, de "eu te amo" em silêncio. Respiramos fundo para sentir!


São sempre poucos instantes, mas suficientes para nos lembrar quem somos, o que viemos fazer aqui. Dura até o esquecimento do momento seguinte...


Mas há os que sustentam esses instantes. São raros! Na simples presença deles somos iluminados por sua luz. Sentimos ainda mais fortemente este acesso de consciência. Estes seres são poderosos, porque são eles mesmos. Não fingem, não escondem a dor, não maquiam os sentimentos, por isso os chamamos "iluminados", "mestres", "gurus", "santos". Eles nos lembram que é possível o despertar em vida. Generosos que são nos ensinam o caminho que percorreram, nos oferecem o mapa de percurso. São o GPS ou o Waze da alma. Têm o localizador perfeito. Eles nos encontram. E se estivermos prontos nós os encontramos também. 


São o símbolo externo do que há dentro de nós. Até sermos capazes de nos fundirmos no que eles são. A luz é a mesma. A nossa só está apagada.