sábado, 23 de junho de 2018

7a carta para minha filha

Você vivia pequenininha escondida na minha barriga que demorou a ficar arredondada e vistosa. Nem percebiam que eu estava grávida de uma luz tão brilhante como a que você é e que me ilumina por dentro. Eu procurava no espelho todos os dias e parecia que jamais o seu tamanho teria as proporções que os olhos das pessoas poderiam captar. Mas, de repente, de uma semana para outra, como de um dia para outro, não sei ao certo quando, a minha barriga foi crescendo de tal forma, que você ficou evidente. O porteiro que eu sempre comprimento mas nunca tinha falado sobre você se manifestou: “Pra quando?”

A recepcionista da academia (que me vê praticamente dia sim, dia não) me falou: “Nossa! Como está grande!” E o seu pai, filha, passou a conversar, cada vez mais, diretamente com você. Diretamente e diariamente. É a cena mais linda do meu dia. E você responde se movimentando. Eu também adoro a voz dele. Parece que nosso gosto é parecido, filha!

Para que saiba como está sendo tudo para mim: tenho pensado muito no nosso encontro aqui fora. No parto. Na equipe médica que vai te nos assistir e cuidar de mim, nos exames e consultas que ainda faltam e nas coisas que eu gostaria de fazer mas que não sei se acontecerão em tempo... Eu queria um dia de bênçãos, com os amigos próximos, para criarmos uma rede de pessoas para te receber. Um núcleo amoroso e terno. 🙏🏻💜 Eu queria encomendar lembrancinhas para dar às pessoas que amo e que quero que estejam por perto a partir do seu nascimento. Queria já ter definido seu pediatra (marquei uma consulta), a minha doula (está quase!) e a decoração do seu quarto. Ao mesmo tempo que sinto que as coisas práticas estão atrasadas, o meu coração não está distraído com tantas tarefas e está tomado do perfume inebriante da sua alma. É como se você não se importasse com nada disso... É como se você me perdoasse o desleixo ou descuido com a matéria e compreendesse a minha essência etérea, um pouco (ou muito!) aérea, que está com você o tempo todo. Sinto que cuido de nós em um outro nível, invisível e intocável pelos outros, um mundo imaginário e vivo, de candura e poesia. Lá caminhamos agarradas e acolhidas, eu por você e você por mim. Ninguém nos vê, mas nos sentimos assim, ainda um pouco misturadas e parte uma da outra. Pelo menos até você nascer! 

Não  sei quantos anos levaremos para ser duas, depois de tão intensamente sermos uma 💜

(23/06/2018, 6:19 AM)



domingo, 10 de junho de 2018

Quem não quer ser amado?

#30semanas

O que estou sentindo? 

Alegria, com a gravidez. Sensibilidade, com o mundo. 

Continuo querendo ser gentil. Mas continuo querendo gentileza também. 

Continuo querendo oferecer amor ao mundo, mas para dar precisamos ter. Às vezes estamos frágeis, já se sentiram assim? Às vezes não temos para dar e a solução é se recolher e se preencher do amor do nosso próprio coração. No fundo ainda quero mais ser amada do que amar. Quem não quer ser amado? 

Somos condicionados a acreditar que para sermos amados temos que fazer isso ou aquilo, ser de um jeito ou de outro (cada um inventa suas regras e as toma como verdades). Às vezes até alcançamos algum grau de admiração. Mas essa não vale... Não preenche. Porque foi preciso muito sacrifício para conquistá-la. Não foi espontâneo. Então é como se não nos tivessem amado pela nossa verdade. Se ficarmos relaxados sendo nós mesmos, seremos amados? Ou ser amado requer um esforço nosso? Se decepcionarmos, seremos perdoados?


Não sou perfeita. Sei que a maternidade vai me mostrar isso ainda mais, como também é provável que vou me cobrar ainda mais... Eu tenho muitos defeitos e acho mais saudável reconhecê-los que apontar os defeitos dos outros. Só assim sou capaz de aprender. 

Já falhei como amiga, como filha, como sobrinha, como chefe, como irmã... As pessoas criam expectativas sobre nós, sobre como devíamos ser ou fazer. Também fazemos isso com os outros. 

Sem nos comunicar fica difícil esclarecer qual a expectativa que estamos ou não atendendo. Isso se chama feedback. 

Como falei no início, estou grávida, sensível, procurando me resguardar e resguardar a minha filha. Para completar fui diagnosticada com uma pneumonia benigna, um vírus (metapneumovirus) que às vezes me abate (ou será um abatimento emocional? Ou natural da gravidez?) Tudo isso para que você leve em consideração meu estado e também pontue o seu. Pois é a partir do nosso estado que nascem nossos pensamentos, palavras, sentimentos e ações. E, mais importante, peço que me passe abertamente por aqui ou no privado o seu feedback sobre mim, me apontando se decepcionei você (já peço desculpas antecipadas) e como posso ser melhor que sou🙏🏻💕


(Escrito em 4/6/2018)



6a Carta para minha filha - Vim neste corpo

CARTA PARA MINHA FILHA

Vim neste corpo conhecer sua alma e forjar o seu. 

Vim desconhecendo esse destino escrito com a mão de Deus. 

Vim de desertos, tecelagens, estaleiros, gerações de antigas mulheres

Vim ser sua mãe! A que costura seus ossos, sangue e carne, e tece o seu pensamento com o que sinto. 

Vim ser sua morada quente, redoma viva de água transparente. 

Vim caminhando sem saber, constituindo o meu próprio ser para alcançar a dignidade de receber você. 

Somente quando estive minimamente em mim é que pude ser preenchida por sua vida. 


Há meses que a alimento e a sonho. Que sinto seu mover e me emociono. 

Há meses que sou habitada por uma outra luz que mal posso conter. 


Recebo o amor do mundo às gestantes, como se estivéssemos grávidas de um sonho comum a todos: o novo que virá!


Você é este novo que não me encerra. 

Sou o portal de tudo que é efêmero para você. 


E você o meu portal para tudo que é eterno na matéria. 


Hoje você vive em mim. Amanhã eu que viverei em ti. 


(Aline Ahmad)


9/6/2018






sábado, 2 de junho de 2018

9 anos com você, Paulo!

Há 9 anos eu estava me preparando para te encontrar em Seattle. (E você para me receber)
No dia 3 de junho eu cheguei no aeroporto de Tacoma e você me esperava com um buquê enorme, a sua bermuda preferida (que anos depois você deixou na tribo Yawanawa) e seu mesmo sorriso encantador. 
Havíamos nos prometido um abraço de um minuto, mas eu ainda estava tímida perto de você. Você não. Você queria ficar bem perto de mim logo de cara, parece que nem me estranhou depois de tanto tempo. 

Com certeza este foi um dos dias mais felizes da minha vida. E um dos mais lindos também. Que dia lindo estava fazendo!(Como não ter escrito um livro para contar esta história?)

Horas depois, quando eu estava em seus braços e você em mim (e de onde não saímos desde então), você me pediu em namoro. 

Em 3 de junho de 2009...