sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Primeiro caderno

Em tempos de muita tecnologia ainda sou dessas que coleciona cadernos. Fica em cada linha um pedacinho do meu ser espalhado, remoído, vivido, sonhado. 

No Colégio Nahim Ahmad valorizamos esse símbolo de tanto afeto, eternizado na música "O caderno", de Toquinho. 

Aprendi a gostar de suas páginas através da ternura de duas mulheres e um homem. Ele era meu avô, que anotava em seu caderno de brochura a contabilidade de seus negócios. Eu nem sabia ler, via naquelas letras e números um traço único que subia e descia na linha. Eu gostava de rabiscar uma folha para imitar. Uma das mulheres foi minha mãe, professora, com pilhas de cadernos para corrigir e uma doçura em querer me introduzir na escrita. A terceira foi minha professora da segunda série. Com muita sensibilidade, ela decorava a lousa com frases, flores e estrelas, eu fazia o mesmo no meu caderno e aquele objeto virava jardim e luz, uma lembrança etérea da criança que fui e sou. 
Anos depois esta professora foi reconhecida, passou a coordenar a equipe de professores e por seus olhos claros e brilhosos resolveu através de invenções que saíam de seu coração no formato de ideias para os alunos. Uma de suas primeiras iniciativas foi criar um dia solene para o recebimento do "Primeiro Caderno": o momento mágico de transformação do instante em história, do momento em trajetória. 

Os alunos do Pré I fazem as atividades em folhas solteiras, soltas uma da outra, não há início, não há fim, só presente. Até que recebem o primeiro caderno, ali ficarão os primeiros registros, os primeiros progressos. Um caderno que os seguirá "do primeiro rabisco até o bê-a-bá".

A professora que tive é hoje a diretora do colégio, Alzira Torrado. Ela manteve as delicadezas que sempre criou para o calendário de eventos anuais da escola. Neste sábado, os alunos do Pré I vão receber das mãos dos veteranos, do Pré II, o primeiro caderno. 

Esta é mais uma ideia inspirada e bonita, de nossa diretora Alzira, que eu aplaudo com toda admiração, a mesma da criança de tranças que olhava a sua lousa, a "muitos-alguns" anos atrás. 

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