segunda-feira, 3 de julho de 2017

Kay Pranis e os círculos restaurativos

Kay Pranis é o que se poderia chamar de "especialista" em círculos restaurativos, porém, como ela mesmo ensina, a palavra "especialista" desvaloriza o entorno, o todo, o coletivo, pois se refere a algo que se aprofunda na parte, entretanto a sabedoria dos círculos é justamente resgatar o valor da união, da conexão, da inter-relação entre as partes. Tratar questões em círculos é um poderoso instrumento de escuta, empatia, compaixão e cura. O círculo é um lugar entre iguais, sem estrutura hierárquica que subjulgue, todos podem ser ouvidos e há a ideia implícita de que cada um tem seu valor único e indispensável. Cada qual com seu olhar particular que só pode ser agregado como riqueza para o coletivo se esta riqueza for percebida. 
A fala de Kay foi me produzindo diversos insights. Como quando falou sobre esta maneira poderosa de garantir a segurança de todos que é a inclusão. Enquanto escrevo me recordo de uma frase que me marcou, cujo autor desconheço: "Se todos dermos as mãos, quem vai segurar as armas?"
Pois a indústria de segurança, armamento, guerra, não garante a vida. Ao contrário, em nome da vida e da "segurança" promove a morte. É enormemente ineficaz. Precisamos começar a pensar a "segurança" de um jeito diferente. 
Ela citou a bióloga Mary E. Clark, que constatou que às necessidades humanas mais profundas que existem são: pertencimento e significado. Contudo a cultura humana não tem promovido isso, especialmente às pessoas pobres ou que não tenham ascendência europeia. Há um buraco em nossa cultura no que diz respeito a promover pertencimento. Pertencer a um grupo é tão fundamental para humanos que se não formos aceitos a um grupo que atua positivamente iremos buscar um grupo que nos aceite, ainda que contrarie nossos valores, ou nossa cultura dominante. Temos como exemplo as gangs, marginalizadas pela sociedade, porém unidas para criar o sentimento de pertencimento. 
Os círculos são também uma reunião de contação de histórias em que cada um tem o direito de contar a sua e ser ouvido. Isso impõe um ritmo mais lento à vida, se comparássemos a como a temos levado, mas também nos leva a oportunidade de nos ouvir internamente e deixar emergir conteúdos que nos importam, curam e transformam. Ouvir o outro permite reconhecer o humano que nos une (a ele) e também (já que ninguém é redundante) nos embevecer com uma sabedoria diferente que enriquece a nossa. Não importa quem seja esse outro, esse olhar externo é algo que não teríamos sozinhos sem uma partilha. 
(Escrito em 26/5/2017) #palasathena #kaypranis #tucarena #puc #aprendizados #palestra

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