quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Tristes

Tenho me maravilhado com as histórias das pessoas, algumas deixam jorrar pelos olhos o encanto da alma, sorriem com o corpo todo, a pele expande, adquirem outro tamanho. Eu me morderia diante disso, para ter certeza da realidade que me toca. Mas quando acontece apenas fico extremamente viva. Diante de mim há o universo acontecendo.
Uma escola, a minha, é o mundo todo.
É o pedaço de giz abandonado na lousa, o ventilador parado como decoração na aula esvaziada, um grito de criança, o povoado de cada sala, outro mundo inteiro dentro de um mundo inteiro. Os lugarejos das carteiras, mestres que entram e saem, saliva em seus discursos... Sentimento, tanto sentimento entalado. Sentimento, tanto sentimento aos berros, mesmo em silêncio. O silêncio, nosso minuto de paz invisível. Está tudo dentro. Dentro e fora, fora e dentro, somos o que está fora, des-somos, des-vivemos, des-olhamos o dentro. Mas somos o dentro, vivemos enclausurados dentro de nós.
Ah! Mas e a beleza das histórias?
Os livros descosturam a mochila pesada, em um pedaço de caderno declaro o amor que não conto por snapchat, mas rasgo em seguida. Um segundo de consciência para as horas de distância. A mãe sozinha cria o filho, a filha, outro filho, gravidez de abandono. O pai imaturo nem sabe a dor que causa, nele dói também. Não sabe tratar mulher. Descarta uma, só aprendeu a jogar baralho, descarta outra, mas se sente sempre descartado. A dor original se repete.
O abandono de quem morre, rejeitando a vida, uma criança sem pai, uma criança sem mãe. Pior, uma criança sem mãe, com mãe viva, uma criança sem pai, com pai vivo. Ausências na infância.

As histórias tristes que me contam. As belezas que me confidenciam.
Ah...