terça-feira, 27 de novembro de 2018

26a Carta para minha filha

26ª CARTA PARA MINHA FILHA 

Amo você, filha. Meu amor nasce de todas as minhas transcendências. Ao me levantar com preguiça para te pegar no colo, ao me deixar sempre pra depois para ficar com você. Você é mais importante! Da minha preguiça nasce meu amor, pois ele a vence, forte como um touro. Então acolho você em meus braços e o amor me acolhe. Tenho vislumbres sobre minha condição de mãe. Sobre a oportunidade de ir além, de descobrir partes minhas que eu desconhecia, alcances maiores do meu ser, pontos mais sublimes da minha personalidade… Claro que atravessamos juntas a minha sombra. Mas seu sorriso me perdoa. Parece que você não se importa e cura a culpa pelas falhas que eu penso cometer. Sei que não haverá perfeição. Mas me deixa tão feliz poder te dar o meu melhor, o melhor que posso, o melhor que eu tenho agora. Cada processo de maternidade é único, mas o meu é de regar essa minha alegria vaidosa de ser a melhor mãe. Não melhor que as outras, melhor do que eu mesma! A melhor mãe que eu posso ser. 

#cartasparaminhafilha #maternidadeconsciente #mãedemenina #maternagem 📸: @sitah_photoart

25a CARTA PARA MINHA FILHA


Choro com você nos meus braços, como se eu fosse a criança nos seus. Você me Nina, eu menina, mesmo sendo você a mais pequenina, você me ensina jeitos de te fazer dormir, jeitos de renovar o amor, de te conhecer, jeitos de não saber, de reaprender, lembrar, esquecer, começar de novo. Afinal há sempre um amor novo por você. Lágrimas de poesia, transpiração etérea do que sinto, flocos de ternura, meu colo tão repleto, e eu tão sua, tão sua…

Estou ouvindo “A soaring heart” uma canção que conheci para te ninar, ninar seus sonhos. Dessa canção vão nascendo essas palavras de pranto. Esse canto que eu canto. 

Esse instante é uma eternidade que quero manter e ao mesmo tempo ver crescer, florescer, desabrochar, como seu riso ao acordar, ou ao me ver, diante do seu olhar. Então a dor da mãe que se doa completamente, inteiramente, se dissolve em um solúvel universal: um amor que só se compreende sentindo. É preciso alertar as jovens mães sobre a dor, pois nada adianta dizer sobre esse amor, ele atravessa as expectativas e brilha quando menos esperamos. Coloco alguma consciência quando você está no meu colo e percebo que tenho pressa. Pressa de sair, de conseguir me arrumar antes, de me sentir bonita, de experimentar alguns momentos dos braços livres, de espreguiçar, pegar um copo com água, comer… À luz da consciência perco a pressa e tenho você, meu tesouro encantado, dona de toda a minha vida, a quem entrego a liberdade, o amor, meus braços, meu peito, meu corpo. E você vai tomando o espaço de tudo e às vezes me devolvendo em pílulas algum conforto na suas singelas independências conquistadas: alguns minutos deitada no sofá olhando o lustre, tentativas de conversar em grunhidos com a almofada, silêncio na cadeira de descanso… Até que seu choro ou incômodo me convoca novamente. Não tive tempo de nada, filha, penso inutilmente em fazê-la compreender. Não adianta. Eis que se abre uma oportunidade nova: você mais uma vez em meus braços. Olho seu rosto dormir ou me olhar e sonho em guardar em um cofre secreto esse momento. Choro com você nos meus braços, filha. Choro de amor. (Out/2018)

#maternidadeconsciente #mãedemenina #cartasparaminhafilha 📸 @sitah_photoart

sábado, 3 de novembro de 2018

Oceano




A natureza é mesmo mágica. Um ser completo se formou dentro de mim. E meu corpo o expeliu como se fosse um órgão vital, do qual abrisse mão todo meu organismo. Mas não era um órgão. Era uma pessoa inteira. Uma pessoa pequena mas com todos seus órgãos inteiros, que iria se alimentar de um líquido branco, saído do meu peito. Do leite que não sei como comecei a produzir, como vaca, macaco e baleia também fazem. A pessoa pequena se fez sabendo sugar, chorar, abrir boca e olhos, fechar as mãos para agarrar meu dedo. A comunicação ainda precisa ser toda desenvolvida, nasce inteira mas não sabe falar. Já dorme e sonha. Já mira os olhos das pessoas em silêncio. Já travou uma jornada comprida e desafiadora dentro do meu corpo. Foi como atravessar um oceano no escuro. Sozinha. Eu não era companhia. Eu era o oceano. E, de repente, isso tudo, me torno uma voz familiar, uma mão desesperada que quer atender o choro rápido trazendo esta pessoa pequena ao colo, ao peito, ao leite. E eu me torno outra, um berço acolhedor, em forma de gente, que se molda a ela e às suas vontades. Conectadas por bicos (do seio e da boca) quase parecemos uma. Não somos uma. Somos duas mulheres inteiras se descobrindo.


(Out/2018)