domingo, 12 de agosto de 2018
20a Carta para minha filha - Dia dos pais
domingo, 5 de agosto de 2018
18a Carta para minha filha
18a CARTA PARA MINHA FILHA
(Continuando a carta anterior)
Quando nos apaixonamos criamos eixos que sustentam nosso encontro (e reencontro, que precisa ser repetido com a mesma potência para estar vivo e novo). É fato que todo relacionamento duradouro se faz de “recontratos”, pois mudamos sempre, mas o nascimento de uma criança deve ser o que de mais transformador possa acontecer a um casal. Como se de repente a substância de duas pessoas fosse demasiada para seus corpos e inundasse de líquido humano, fértil, perfumado e amoroso um outro “pote” corporal. Você, filha, já nasce banhada pelo nosso amor e emerge dele também. Você é fruto e motivação do nosso encontro, geradora e consequência da nossa união.
Mas por inspiração nas conversas que temos com Madhuri ( @madhuri_oficial ), a doula, reconhecemos que após o seu nascimento, quando o furacão da transformação tiver passado e deixado suas marcas, precisaremos olhar com profundidade para quem somos, fatalmente seremos outros. Teremos que atravessar a redescoberta da nossa alma para então nos apresentarmos novamente. (Sugestão baseada nos estudos da Madhuri)
“Olha, meu nome é Aline, hoje eu gosto disso, eu não gosto mais daquilo, eu me interesso por isso, para mim é importante aquilo. Para tal coisa eu não ligo mais, porém preciso disso e posso oferecer isso. Para mim relacionamento se tornou isso. Você topa?”
Filha, o seu pai há de fazer o mesmo e me dizer. Poderemos pensar se somos capazes de levar adiante um casamento tão diferente do que aquele ao qual nos dissemos “sim, eu quero me casar com você”, mas sabendo disso parece que será ao menos um pouco mais fácil, estaremos mais abertos a nos compreender e compreender o outro. Pode ser que daremos como resposta: “Vai ser difícil para mim tolerar essa parte! Mas aceito tentar” e também pode ser (sou romântica e otimista, filha!) que nos apaixonemos ainda mais e mais profundamente por aqueles que seremos, após você passar por nós. É assim que sinto. (Continua na próxima carta)
#cartasparaminhafilha
19a Carta para minha filha
19a CARTA PARA MINHA FILHA
Filha, nas horas doces da vida vi muitas vezes escapar, do homem que amo, o seu pai em um sorriso. Saía sem timidez ao olhar um bebê, carregar uma sobrinha, ou te imaginar. Em alguns momentos antes de dormir a se perguntar "já pensou uma menininha dormindo aqui com a gente?"
Desde que ele instalou você no meu ventre esse sorriso tão pouco assíduo foi ficando mais presente e duradouro. Um sol brilhante no rosto dele, um sol todo seu, filha, direcionado para essa lua cheia, crescente, luminosa, na minha barriga. Há meses, quando notamos você se expandir como uma semente que rompe a terra para cumprir seu destino de árvore, ele começou a conversar com você todas as noites antes de dormir. "Está quentinho aí, filha? Deve ser gostoso estar na barriga da mamãe! A gente está te esperando. Vai ser gostoso aqui também. Olha, a saída é por aqui!". Dizia ele apertando levemente meu baixo ventre. Outros dias ele contava algum acontecimento "Filha, hoje fizemos o ultrassom e vimos você!" ou ainda "Hoje a vovó veio aqui em casa e levou umas roupinhas suas para lavar". Também fazia muitas perguntas como se sua voz estivesse disponível para responder e fosse decifrável para nós "Já está dormindo, filha? Tá acordada?" e com as mãos ficava sentindo se você correspondia com algum movimento, como se você estivesse nos ensinando o seu alfabeto próprio que o deixava mais entusiasmado em traduzir "É mesmo? Acordou?" E olhava para mim, como se para confirmar que eu também testemunhava o fenômeno de um pai amar e se comunicar com uma filha que ainda não nasceu. Por vezes meu olhar ficava turvo de lágrimas. Enquanto te dizia em palavras, filha, ele me validava em silêncio, seu pai reconhecia em mim a mãe emanando carne, ossos, sangue, te nutrindo de vida e ele ali, nos nutrindo de amor. O seu pai tem tanto amor dentro de si, que ele se esparge em arte e em ciência, em música e em poesia, em presença e em abraço, em carinho e no sorriso dele. Meu pai, filha, o avô que você não vai conhecer fisicamente quando nascer, dizia que "era um sorriso capaz de iluminar uma sala toda".
Daqui uma semana será domingo de dia dos pais. Fico pensando se você vai querer passar essa data dentro de mim ou no colo do seu pai, se ele estará olhando seus olhos ou o meu umbigo e se estaremos sorrindo de amor ou de ansiedade. Você escolhe, filha!
17a Carta para minha filha
16a Carta para minha filha
16a Carta para minha filha
Enquanto publico as cartas que escrevo a você, filhinha, muitos corações nos acompanham. A sua mãe tem mesmo gosto por ser lida e partilhar o que sente. Além de te deixar esses vários símbolos de amor, cada carta também espalha pelo vento do mundo a conexão única que estamos criando mesmo antes de você nascer. Na carta anterior falei da nossa bagagem, que ao nascer já está um pouco cheia, nela trazemos também alguns segredos que aos poucos somos capazes de revelar a nós mesmas. Não são inventados, só mal compreendidos. São origens anteriores a nós. Veja só, filha, eu com esse prazer pela escrita e minha mãe cursou Letras. Eu com meu amor pela educação e minha mãe e pai são pedagogos. Jung, um homem muito admirado por nossa cultura, querida, e que deixou uma linda obra de pesquisa sobre o humano e nosso inconsciente (onde provavelmente esta bagagem se situa), tem uma frase muito boa que diz mais ou menos assim: “Nada influencia mais os filhos do que a vida não vivida de seus pais”. Todos os sonhos que eu não viver pode ser que sobrem como peso na sua bagagem. Preciso viver meus sonhos!
Porém não sei se Jung previu que podemos também ser escolhidos por almas que compartilham nossos sonhos. Acredito que de alguma forma escolhi assim meus pais, os que já amavam o que eu também amava, mesmo antes de mim. Como e por que será que você nos escolheu?🙏🏻💜 #cartasparaminhafilha
📸 @sitah_photoart
sexta-feira, 3 de agosto de 2018
15a carta para minha filha
15a Carta para minha filha
Como é sábia a natureza, filha!
A mulher tem 9 meses para tornar-se mãe. Um tempo de mergulho em si mesma. Acontece ou acontece. Algumas podem viver isso propositalmente com entrega e consciência. Quando não é possível existe o sono incontrolável que toma as grávidas. Não é só cansaço, é tempo para se assimilar internamente todas as transformações. O sono permite os sonhos, as imagens e histórias inverossímeis que formulam na alma o que precisa ser vivido ou revisto, revisitado. Também é comum que a gestante se torne mais seletiva, escolha melhor com quem irá encontrar, de quem irá se aproximar ou distanciar. Às vezes o distanciamento pode ocorrer mesmo de pessoas muito amadas, mas se alguma convivência não está trazendo amor e acolhimento, sem nem notar, a gestante se afasta, e não faz isso por si mesma, mas pela criança que carrega e que não pode se defender sozinha. É o instinto materno protegendo a cria. Não é incrível?
Olhando para trás, nesses meses, filha, me percebi algumas vezes em conversas desagradáveis. Lembro que logo minhas mãos tocavam a barriga na tentativa de criar uma barreira para aquele conteúdo não atingir você. Também me notei mais caseira, querendo mais horas de descanso, sono, ou de lazer divertido e gostoso que fizesse bem pra mim e pudesse agradar você também. Acho que fiz essas coisas com pouca consciência e escolha, por isso celebro a minha natureza feminina que me guiou nessas direções.
O mundo está evoluindo mas continua um tanto despreparado para compreender os processos internos humanos. Carregamos a bagagem do nosso passado e dentro dela a bagagem de todos nossos antepassados com as percepções deles, dores, mágoas, alegrias e belezas de todo o tipo. Essa hereditariedade está ainda mais presente na gestação, na maternidade e na paternidade, porque justamente estamos ampliando para mais uma geração que irá carregar a nossa bagagem. Quando abrimos essa “mala” de conteúdos inconscientes e procuramos compreender (o que implica nos compreender), damos a oportunidade de que o próximo carregue uma bagagem mais leve. Tenho tentado aliviar o tempo todo o peso da sua bagagem, filha.
📸 @sitah_photoart