quinta-feira, 13 de setembro de 2018

22a Carta para minha filha

“Ela vai crescer rápido”

Ele me disse essa madrugada, com você no colo, no intervalo de uma canção de ninar que balbuciava.

Tive alguns segundos para pensar se estava se referindo a algum conhecimento biológico sobre seu crescimento, mas ele completou:

“Passa tão rápido. Por isso quero aproveitar todos os momentos”.

Desde que você chegou, escrevo este texto no seu 19o dia, seu pai trocou praticamente todas as suas fraldas. A sua vovó também várias e eu poucas. Mesmo assim vivemos momentos muito intensos, só eu e você, enquanto todos dormiam, ou enquanto só havia nós mesmo, ainda que todos estivessem acordados em volta. Você ainda não sabe que sou sua mãe. Você procura meu seio no ar mesmo quando estou muito perto. É como se você nem sequer me visse ou percebesse a minha existência. Sei que bebês são assim mesmo nesta fase, mas eu me enxergo sendo muito sua, um pouco perdida de mim mesma, renunciando minhas vontades, meu conforto, para que não te falte leite, colo, ou companhia. Ainda que esteja tudo misturado pra você, todas as companhias, colos, leite (apesar de nesse caso ser sempre eu), te dão o mesmo conforto, quando você o consegue sentir, o mesmo sono, quando ele chega, não importa muito quem seja… Mas, às vezes, parece que faço alguma diferença quando observo você se acalmar de um choro nos meus braços. E sei que estas singelas situações tem me importado mais porque meus dias tem sido você. Como qualquer ser humano é de fora que acabo procurando o afeto essencial do meu ser. Então, mesmo você sendo tão frágil e pequenina, me pego esperando de você reconhecimento e amor, o que ainda parece muito cedo para que consiga me dar. Sendo assim sou sempre eu que te dou, de uma fonte que eu nem sabia que seria capaz de oferecer, uma nascente interna e abundante, do leite que jorra do meu seio, o seio do meu corpo e do meu sentimento. Assim como você expandia meu corpo, minha pele, agora expande meu coração, um vasto lugar, de onde tiro forças e intensidade para soprar a você potência, alma...


Nossos encontros, em noites mal dormidas, madrugadas adentro, quando só alguns pássaros estão acordados e cantam no silêncio desta enorme cidade, como se soubessem que, ali muito perto, há uma mãe a alimentar sua filha. Esta mãe está exausta e sua bebê chora sem que o motivo fique claro. Aos poucos se esgotam as tentativas de acalmá-la. É sempre o peito que cala o choro e faz dormir, mas isso pode durar uma sequência de horas, até que se instale na penumbra do quarto um intervalo silencioso cujas vozes se apaziguem com o cerrar dos olhos. Somos duas crianças e duas mulheres querendo descanso.


Nina, vou sentir saudade de tudo isso. Mesmo quando tão intensamente desejo que passe. Vou sentir saudade. E, como bem me lembra seu pai, passa rápido, meu amor, passa muito rápido!


(Escrito em 13/9/2018, Nina tem 3 semanas e 1 dia)

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