sexta-feira, 27 de março de 2015

Índia e religião

Nunca acreditei em religiões. Preciso confessar-me. Nunca acreditei em templos, em deuses, aliás, eu, nem sequer, acreditava em mim mesma. 
A minha crença era, e ainda é, a psicologia. Como se fosse uma ciência. Ah, esqueci de dizer. Eu sempre acreditei no estudo, na pesquisa, na experiência. A psicologia atendia todos os meus anseios. Seria o meu método de salvar a alma. A salvação de mim mesma. Compreender com a mente para ter paz no coração. Mas, através da psicologia, pelo estudo de mim mesma, da minha história, da minha infância, da minha vida eu fui chegando a trechos da jornada que não podiam ser atravessados só com ela. O mapa era falho. Me levava a um ponto nulo, do qual não me permitia adiantar-me. Então eu notei que apesar de não acreditar nas religiões, eu acreditava no amor, na amizade, na liberdade. Também já acreditava mais em mim, mas ainda não tinha paz o suficiente para fazê-lo por completo. Então, naturalmente, meu coração foi se abrindo para uma compreensão maior, cujo nome "espiritual" se tornava mais e mais latente para discriminá-la, mas que ao mesmo tempo não me convidava a reconhecer meu espírito e sim reconhecer meu corpo, meu próprio instrumento, minha presença, minhas atitudes. Notei que tudo que eu acreditava ser "espiritual" eram fenômenos físicos que podiam ser experimentados no meu corpo, na matéria, através dos meus sentidos. Passei a praticar diariamente a meditação, uma disciplina com o silêncio, uma devoção ao meu próprio ser e quanto mais fui apurando minhas práticas percebia um buraco a ser preenchido. Eu não sabia atravessar a escuridão do caminho sozinha — já que eu não tinha nem mesmo um direcionamento confiável. Seria necessário um mestre. Alguém que tivesse experimentado na pele todos os estágios desta jornada em busca de si mesmo, um guia que conhecesse o caminho. 
Foi assim que minha conexão aconteceu. É como um encaixe perfeito, simplesmente flui e acontece. E vem no momento de relaxamento, é como se tudo antes fosse uma resistência para evitar esse encontro, mas, na hora que deixei de resistir, o encontro naturalmente se deu. 
Religião vem do latim "religare" que quer dizer religar. Entrar em contato com um mestre verdadeiro no momento certo do caminho é como despertar de um sono profundo para tomar consciência de tudo: de si, dos outros, do mundo. Eu fiquei maravilhada com o que vi. Fui tomada por um êxtase de alegria e amor. Não se tratava de uma lição dada pela mente racional, aquilo não era fruto de uma comunicação cerebral entre dois seres, mas de uma experiência vivida no sentimento, com todos os sentidos do corpo e em todos os sentidos e significados possíveis. 

Ainda ontem Prem Baba nos disse:
"Assim como cada um tem fins e talentos específicos, uma forma única do amor se expressar em cada um. Cada país também tem sua expressão. A Índia é misteriosa, notoriamente conhecida como tendo como principal presente a espiritualidade. É o país que mais produz iluminados no mundo. Mas antes da espiritualidade tem a característica de produzir confusão. Da um nó na mente, especialmente do ocidental. A Índia é um quebra-cabeça pro ocidental. É um dos lugares de mais contrastes (...) Vai entender isso com a cabeça! Você só entende o significado da vida com o coração. A vida é um mistério que só se desvenda através do coração. Não importa onde você esteja a vida está constantemente te chamando para ser desvendada através do coração. Está constantemente nos convidando a olhar nas entrelinhas."

E a Índia faz isso com as pessoas, disponibiliza para uso esse olhar mais apurado, esse amor mais pulsante, esse gosto mais picante na boca... Parece que ficamos mais vivos, inteiros ou mexidos, despedaçados, às vezes, mas vivos!

E entre tantos sons e cores e gostos, o deslumbre diante da realidade é um presente que tenho recebido, como uma graça divina, um beijo do sagrado no meu corpo tão humano. 

Meus olhos estão mais abertos para a vida, e meu sorriso também!

Um comentário:

Anônimo disse...

Aline,

Você está realmente apoderada de si mesmo. Linda. Um dia, irei para Índia física. Mas, a ìndia sempre esteve dentro de mim...a hora certa, vou realizar este encontro materialmente: eu e a Índia.

O Prem Bába foi e é muito importante para mim no surgimento deste novo tempo...


Namastê

Cristina