domingo, 7 de julho de 2013

Muro

Abro a porta do quarto para pegar alguma coisa e um olhar me fita. Ele enxerga meu rosto coberto de lágrimas, meus olhos vermelhos, inchados... Eu não saio, me escondo atrás de uma parede. Fecho a porta de novo. Assim fecho meu coração, me fecho em muros que não quero abrir, nem atravessar nunca mais. 

A literatura é feita de transgressões. Os romances, as histórias, os contos de amor que nos tocam são feitos de transgressões da ordem e da obviedade. É preciso atravessar o muro, pular, arrancar os tijolos à unha, atravessar a selva, o lodo, o escuro.

Estou atravessando um corredor de escuridão. Não vejo luz, nem borboletas. Sinto frio. Frio como o sereno. 

(Por que afinal "sereno" designa o léu, o livre e o puro? Para ser puro (sereno), é preciso antes ser livre (sereno). E para ser livre, é preciso antes estar ao léu, jogada na vida, no "sereno". Só assim será possível ser serena.) 

Não sou pura, nem livre, apenas estou com frio, no sereno... Diante de mim esse muro. E o desejo de travessia. 

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