domingo, 13 de maio de 2018

Sobre presença e comunicação nos relacionamentos

Sou uma gestante que por varias vezes tento convencer meu marido a me acompanhar em eventos da jornada de preparação para a chegada de nossa filha: rodas de gestantes, yoga para gestante, curso de cuidados com o bebê, etc. Ele me acompanhou uma única vez, justo o dia que ele se sentiu um pouco atingido pois era uma roda de doulas falando sobre violência obstétrica (que de fato existe, mas como em todos os conflitos é preciso ouvir o outro lado, no caso dele, como médico, mesmo não sendo obstetra ele se identificou mais com o lado que estava sendo atacado no tal encontro...).

Ontem tentei mais uma vez, quando soube de uma aula de yoga para ser feita em casais, para se prepararem juntos para a experiência do parto natural. Então percebi que ele se exaltou um pouco (se sentindo sobrecarregado com meus muitos convites) e me respondeu:

“Olha, eu vou ser um pai presente, assumir toda a responsabilidade e contribuir com o que você e a criança precisarem quando nossa filha nascer. Mas, no momento, eu estou valorizando muito a leveza deste período em que me preparo para ser pai fazendo apenas coisas que gosto e que me interessam. Não quero fazer nada por obrigação e acho que se eu fizer a paternidade pode começar a pesar, sem necessidade disso”. 

Enquanto ele falava procurei ouví-lo com atenção e entender seus sentimentos, pois mesmo não querendo ir aos eventos que o convido ele tem sido um companheiro que eu adoro e está muito gostoso os momentos que temos vivido juntos. Então lembrei de praticar a Comunicação Não-Violenta. Falei:

“Você está sentindo que quando nossa filha nascer poderá ter menos tempo para fazer as coisas que gosta e então está querendo aproveitar agora para fazer essas coisas? Você acha que se for comigo só para me agradar será uma perda de tempo para você e não conseguirá atender às minhas expectativas? Você quer viver a sua despedida de uma vida mais autônoma e sem filhos e acredita que aprender demais sobre parto e educação pode tornar a sua conexão com a criança algo artificial (esta parte eu tinha notado em outras situações)? 

E ele sorriu e me respondeu:

“É isso”.

Então, depois de contemplado eu o convidei a praticar a empatia comigo. 

“Por que você acha que estou querendo participar desses eventos?”

A resposta sincera dele foi: “não sei”. 

Então falei: “Todo esse tempo que te convido você não parou pra pensar a esse respeito? ”

E expliquei: “Eu quero me preparar para o parto natural, estar pronta para quando o momento chegar e, sobretudo, trabalhar isso internamente, em mim. E acho que seria gostoso passar esses momentos com você”.

E pedi que ele me dissesse com suas palavras o que entendeu:
“Você quer o parto normal mas está com medo e quer se preparar”

Falei que não chamaria de medo mas refleti um pouco e percebi que tem a ver com o medo de quebrar uma expectativa que estou criando mesmo sem querer. 

Falei “tá vendo como a Comunicação Não -Violenta nos ajuda?”

Ele concordou. E o diálogo trouxe compreensão e união para nós.
16/5/2018

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