domingo, 20 de maio de 2018

4ª carta para minha filha

4ª Carta para minha filha

Desde que sua chegada no meu ventre se aproximou algum fatos extraordinários tem acontecido. Recebo “sinais” da sua vinda há mais de 2 anos. E tenho a sensação de que você me acompanhou durante todo este tempo, aguardando o amadurecimento do papai e da mamãe e a abertura do nosso coração para você. Agradeço por ter nos escolhido e por esperar tanto. Uma mãe espera 9 meses (talvez a vida toda), mas você também estava me aguardando há anos.

O primeiro sinal
Em 2015 sua mamãe (eu) passou por processos bem fortes, alguns deles foram literalmente iniciações espirituais com um mestre muito amoroso e sábio, chamado Prem Baba. Essas iniciações aceleraram o amadurecimento e o acontecimento da VERDADE. Tudo que não era verdadeiro foi desmoronando, caindo, e somente ficou o que era puro e transparente. Foi uma grande limpeza. Com isso até mesmo parte do relacionamento da mamãe e do papai foi comprometida, chegamos a pensar que não suportaríamos olhar-nos de frente sem tudo que havia caído de nós. Foi difícil, doloroso, mas ao mesmo tempo havia muita guiança e muita força ao nosso lado naquele ano. Lembro de tudo como se eu estivesse sendo carregada por mãos muito poderosas, inclusive as minhas próprias.

Com tudo isso pedimos uma conversa com nosso mestre, pois nos sentíamos perdidos com as novas perspectivas que estavam se abrindo em nosso relacionamento. Inclusive com a possibilidade de não caminharmos mais juntos.

Estávamos em Alto Paraíso, durante uma temporada em que ele recebe seguidores, devotos e pessoas de diversas partes do mundo para estar em sua presença e aprender com seus ensinamentos. Ele conseguiu nos receber para uma conversa em seu singelo chalé. Na entrada há um pequeno jardim com delicadas flores e assim que entramos o vimos sentado próximo a uma janela, de onde raios de claridade faziam moldura em seu corpo. Sentamos diante dele e a primeira coisa que nos disse foi: “Vocês não pensam em ter filhos?”

Filha, esta era uma ideia ainda distante para nós, já havia passado pela cabeça, claro, respondemos que ainda não sabíamos, que estávamos estudando... Mas na ocasião eu não tinha dado o real valor de uma pergunta como esta, vinda de um mestre espiritual. Eu estava muito perdida em outras questões. Mesmo assim depois de toda conversa, conforme o tempo passou, aquela pergunta foi a frase que ficou mais viva em mim daquele encontro. E foi a questão com a qual passei a conviver em diversos momentos (alguns mais conscientes, outros menos) até a sua chegada. Foi apenas o primeiro sinal. E hoje eu tenho a impressão de que ele viu ou sentiu sua presença com a gente naquele dia, e que por isso fez a pergunta. Será mesmo que você já me acompanhava?

O segundo sinal
Mais de meio ano após esse encontro eu fui para um retiro com meu guru. Era maio de 2016. Meu coração estava repleto de dúvida sobre a maternidade. Eu não me sentia preparada. E minha alma já sentia a sua presença, minha querida, era como se você já me pedisse passagem. Ele sempre alertou em seus discursos sobre a importância de exercer a parentalidade com consciência e responsabilidade, de identificar se a experiência seria parte de um programa da alma e não apenas um impulso social e automático.  Isso me trazia mais dúvida. Eu não me sentia sensível o suficiente para reconhecer a minha programação. Escrevi a ele uma pergunta, contando sobre nossa dúvida (minha e do seu pai). Ele respondeu genericamente primeiro, mas depois especificamente pra mim:

“(...)Hoje eu sinto que você está recebendo essa clareza, a guiança divina, eu sinto que você pode realmente fazer diferença pra cuidar de uma criança. Pode ser uma grande experiência. Um grande sadhana. (...)
Se isso está realmente vindo, pergunte para o Universo, peça um sinal, um sinal claro. E se vier, ok, é hora de viver esta experiência”

O terceiro sinal
Segui o que meu guru tinha falado. Quando eu e seu pai estávamos a caminho de um trabalho espiritual importante para nós eu resolvi, mentalmente, pedir por um sinal.  Assim que fiz o pedido o carro fez uma curva na estrada e bem diante de nós surgiu uma galinha com muitos pintinhos atravessando a pista. Ela parecia feliz e orgulhosa com suas crias. Aquela cena tão clara me emocionou muito. Seu pai, que é tão doce e sensível, logo disse: “que lindo! Que linda essa galinha com os pintinhos”, e eu ainda fiquei em silêncio. Eu esperava que o sinal fosse acontecer quando chegássemos, durante o trabalho espiritual. Não esperava algo tão imediato.

Na volta contei para o seu pai. Ele sorriu. Nunca esqueci e nunca vou me esquecer deste sinal.

O quarto sinal
Estava tudo tão claro, mas eu não via, filha. Eu tinha bastante medo de não ser uma boa mãe para você. Ou de não gostar de tudo que mudaria em minha vida. Peço perdão por minha falta de coragem. Mesmo com tantos sinais... Cada vez mais eu me sentia recusando um chamado da minha alma. Eu reconhecia que nos meus momentos de inteireza e segurança o que eu mais desejava era receber você. Mas eles passavam. Esse mundo tem muitas distrações, nem sempre estamos próximos de quem realmente somos. Quero poder te apresentar todas as coisas sem interferir na sua pureza, mas já sei que é praticamente impossível viver por aqui sem construirmos um ego, que difere de nós. Nós o construímos para que em algum momento possamos abandoná-lo. Até lá nos confundiremos com ele... Eu sempre fui sua mãe. Mas estava confundida com alguma outra coisa construída no meu ser. Nos meus momentos de sensibilidade a maternidade me preenchia de amor. Como neste momento você preenche meu corpo com o seu.

O que estou chamando de quarto sinal são as muitas pessoas que sonharam com você antes mesmo da concepção. Todas mulheres. Algumas em sonhos em que eu aparecia grávida, outras me viam carregando uma recém-nascida. Quando elas me contavam eu logo ativava minhas ferramentas mentais e pensava que o sonho tinha mais a ver com a pessoa do que comigo. Agradecia pelo fato de representar para ela um símbolo, e respondia que provavelmente algo novo estava para acontecer para ela e que o meu aparecimento no sonho, grávida, estava simbolizando isso. Eu me arrependo muito de não ter anotado esses sonhos, as datas e as pessoas, mas assim que você chegou eu busquei reencontrá-las e pouco a pouco localizei algumas.

Além dessas mensagens que consegui registrar, tem também uma pessoa que engravidou bem próximo de mim mas que antes disso havia sonhado que ficaríamos grávidas juntas, a Fabiana. Com ela são 7, mas tenho memória de no período de uns 2 anos ter ouvido de aproximadamente 20 mulheres sobre sonhos como esses. Eu estava distraída, filha, nem cogitava que estes também eram sinais.

Isso sem contar as amigas que me viam como a mãe que eu não sabia me ver, mas que me traziam alguma coragem momentânea e muito amor. Amanda Galler, Alzira Torrado, Isabella Dragão e, creio eu, muitas outras... Em 2011, lembro que estava visitando Seattle com seu pai (a cidade em que começamos a namorar) e brincando com a Sarinha (filha da Amanda) no colo, seu pai também não acreditava na minha estrutura para ser uma boa mãe. Ele também estava distraído. Mas a Amanda disse: “Imagina! A Aline é uma leoa. Vai ser uma mãe leoa.” E assim reconhecemos as nossas amigas, filha, nos olhos das mulheres que nos veem selvagens como realmente somos. 🙏🏻❤️


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