quinta-feira, 23 de julho de 2015

Três minutos

Escrito por um amigo muito lúcido acerca da diminuição do limite de velocidade nas Marginais em São Paulo:
"Três minutos. 
Estamos todos correndo demais. Correndo com tudo, como se fosse necessário sempre correr. Cada dia mais intolerantes com a espera, perdendo a paciência com facilidade, pensando pouco na importância de desacelerarmos esse ritmo inadequado que tomou conta de nossas vidas.
O grau de desconforto causado pela redução da velocidade nas marginais é um exemplo claro disso. 
Em qualquer trajeto que fizermos, em qualquer uma das pistas, levaremos, em média, 3 minutos a mais do que costumávamos, considerando-se um percurso de tráfego totalmente livre (coisa rara nas marginais). Se formos da ponte do Piqueri à Eusébio Matoso pela expressa, ou à Casa Verde pela local, em ambos os casos levaremos 3 minutos a mais do que levávamos antes.
Três minutos. Não mais do que isso. A não ser, claro, que as vias estejam entupidas, coisa que pouco depende de velocidade e, muito mais, da quantidade de veículos disputando um mesmo espaço. Aí, a espera vira aquela incógnita de sempre.
O que observo é que uma medida como essa, que "rouba" três preciosos minutos de nossa agitada vida, torna-se alvo de ataques aparentemente óbvios, dado o grau de insatisfação geral da nação com tudo e todos. "Esse governo, que já me mata com impostos, insegurança e falta de transporte público adequado, ainda quer restringir meu direito de chegar 3 minutos antes no meu destino?". 
Não era só pelos 20 centavos e, agora, certamente dirão que não é só pelos 3 minutos. Questiono, entretanto, se a queixa advém, verdadeiramente, de uma preocupação com o bem comum, defensável com argumentos lógicos, ou por mais uma reivindicação individualista e ranzinza de cidadãos que não admitem desacelerar um pouco e assumir que podem, sim, esperar 3 minutos pra chegar onde desejam caso queiram usufruir daquele espaço comum por onde outros cidadãos igualmente apressados também precisam passar, especialmente se a proposta é favorecer a segurança. 
Claro que, em nossa tradição paranoica, a medida é vista como uma manobra maquiavélica para arrecadação de multas. "Segurança? Que nada! Eles querem é dinheiro!". Confesso que o bom senso me faz pensar preferivelmente que não existe uma indústria das multas e, sim, uma indústria da desobediência, da pressa, da desatenção, do pezinho nervoso no acelerador que rende milhões de reais aos órgãos de trânsito. A regra é simples: obedeça à sinalização e você não será punido. 
Acredito que temos reivindicado muito e nos dedicado pouco, recusado a todo custo qualquer sacrifício ou esforço e ficado na condição de vítimas o tempo todo. Estamos tão irritados com tudo, que qualquer coisa que exija algum empenho do cidadão e coloque um novo limite é severamente rechaçado. Vide as ciclovias. Vide agora, essa redução de velocidade nas marginais. Vide os próximos capítulos dessa novela que é o progresso da mobilidade urbana em constante choque com os interesses individuais e setoriais.
Se você não concorda comigo, peço desculpas por tomar esses 3 minutos do seu tempo, que poderia ter sido melhor aproveitado fazendo um miojo. Apenas convido você a repensar seu ritmo de vida, as concessões que você aceita fazer ou o quão irritável fica o seu humor quando alguém lhe diz "não, você não pode ultrapassar este limite". Pense nisso. Sem pressa." (Cezar Siqueira)

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