quinta-feira, 5 de abril de 2018

Terceiro ultrassom

Terceiro ultrassom - 3/04/2018

21 semanas. Bastante esperança de que confirmaríamos o sexo do bebê. 
Sempre tivemos expectativas de ter uma menina. Vivi neste universo desde a infância. Acompanhei a chegada de duas irmãs e 3 sobrinhas. Não tinha a mínima ideia de como seria criar um menino. Não dava pra sonhar com algo tão desconhecido. Sou rodeada de mulheres. Sempre foi assim. Além disso as menininhas da família sempre deixaram no Paulo um apaixonamento e um brilho nos olhos tão encantado que eu sempre tinha vontade de termos a nossa e de poder vê-lo também assim deslumbrado com uma que tivesse saído do meu ventre e tomado do meu leite, sendo um pedaço meu inteiro e autônomo recebendo dele atenção e devolvendo a ele a suprema alegria que mora em seu rosto nos contatos que faz com as crianças. 
Eu entendo bem uma menina, sendo uma até hoje, naquilo que me liga a todas as mulheres do planeta, nos desafios que a vida apresenta, nas doçuras possíveis. Eu não sabia nada sobre um menino. Estava disposta a seguir meu instinto mas sentia um lampejo de medo. Meu menino seria frágil demais com o amor que quero dar. E minha vontade de vestí-lo, quase fantasiá-lo, das tantas expectativas que tento me desvencilhar, mas que crio, assim mesmo. Umas são objetivas como roupas coloridas, flores, delicadezas... Como me livrar dos tantos conceitos que estão comigo a respeito do que é um homem e uma mulher?

Sim, aspiro a igualdade, como uma feminista. Como mulher reconheço uma sociedade que ainda limita os alcances do feminino. Observo com admiração as expoentes que atravessam barreiras e brilham. Talvez nunca as disseram: homens e mulheres são diferentes!

Pensei em não saber o sexo, deixar a surpresa para o momento do parto, para tentar me livrar das expectativas. Mas percebi que não conseguia. Estava acima do meu controle. A minha vontade de viver esse caminho um pouco mais conhecido — de criar uma menina — era tanta que eu temia machucar ou interromper a masculinidade de um menino sendo gerado no meu corpo. Muito neurótica? Talvez...rs

O Paulo, por sua vez, também tinha suas certezas. Abdicou do sonho de conviver com uma menininha e se preparou para receber um menino, começou a aceitar essa verdade que acreditava ser a mais provável. Ele dizia que no ato da concepção sentiu a alma de um menino passar por nós. Acreditou nisso o tempo todo, com tanta convicção, que eu também passei a compartilhar a sensação de que um menino estava nos preparando para chegar. 

Marcamos o ultrassom com o mesmo médico do exame anterior. Nosso segundo morfológico (um ultrassom bem detalhado). Vimos em 3D um lindo rostinho na tela. Narizinho arrebitado, boquinha. De repente o médico mostrou corriqueiramente os órgãos genitais. E já foi se referindo a ela. Foi um susto e não uma notícia. “Vocês não sabiam? Achei que já tivesse falado no ultrassom anterior. Como conseguiram esperar até agora?”

Fizemos aquela pergunta que só denuncia o espanto: Certeza?

Sim, certeza, ele respondeu e acrescentou: “Olha aqui como já está tudo bem formado” e com a seta ele apontava na tela alguns pontos e descrevia. 

Uma alegria me invadiu. Meu amor pela criança cresceu 10 vezes. Me arrependi de não saber antes. Incrível como esta única informação me aproximou deste Ser, como se agora eu a pudesse compreender mais. Como se eu, agora, soubesse mais quem ela é. Uma mulher! Uma fêmea! Uma espécie como a minha. Sei quem ela é. Alias, sei quem você é, mas terei que a descobrir por toda minha vida, filha. 

Finalmente posso chamá-la de filha. Filha. Filha! Filha...

Você ainda não tem nome, mas já tem todo o meu coração. 

(Foto ilustrativa deste momento de surpresa. Tirei da minha sobrinha Rubi)




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