quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Meu aniversário

Entre eu e minha sobrinha existe um vácuo de quase 35 anos. Momentos que preenchi com muito amortecimento e distrações mas que também me deixei levar e foi como se a vida me arrancasse um beijo ou me exigisse os sonhos para me dar seu sangue. A alegria veio quando a vida sangrou de tanta fricção, e não cabe aqui nenhuma conotação sexual - mas também sexual, por que não? Se é do sexo que a vida nasce e permanece - me refiro a fricção no sentido daquilo que é experimentado com força e à exaustão. A alegria assim é conquista. Mas há também uma outra, a presente, a que acontece em um suspiro, no instante de um olho piscar, em um perder-se ou encontrar-se, numa epifania que atenta "eu existo e isto basta". Pode durar apenas um segundo para sentir ambas, pode levar 35 anos (ou mais!) para percebê-las. Por essas alegrias (eu agradeço!) a minha existência foi criando significado. E mesmo com algum sentido, para a minha vida, é cisma minha continuar inventando novos... Novos sentidos! 
...Quando olho uma criança percebo que andamos ao contrário nos distanciando de nós mesmos para, só na velhice, fazer o caminho de volta ao nosso próprio encontro.  ...A solidão do útero, a solidão dos anos, mas a companhia que a gente deve aprender a gostar: a nossa. É acostumar-se consigo que nos permite uma aproximação mais verdadeira e real com os outros. Bom, em um dia como hoje os textos ficam como a vida, sem um fim determinado. Feliz aniversário, Aline!
(Escrito em 18/02/2014)

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