terça-feira, 25 de agosto de 2015

Sexualidade

(Texto lúcido de Wesley Aragão)

A origem da palavra sexo é seccionar, cortar. O que foi cortado ?

No Banquete, Platão fala sobre amor ; Diotima, sacerdotiza de Afrodite, vai ensinando os filósofos os segredos e mistérios do amor. Essa é uma concepção platônica da humanidade que originalmente era andrógina.

Segundo ela, os deuses resolveram neutralizar o poder e a felicidade desses seres que, depois de seccionados, começaram a ansiar muito um pelo outro. É Eros quem vem para reunir as partes separadas.

Sexo é religião – cada vez que se faz sexo está se religando. Em várias culturas diferentes, percebeu-se essa relação, o sexo era uma coisa sagrada.

No mito de Kali, na Índia e nas celebrações celtas cujas orgias celebravam o ato criativo, observa-se a sacralidade do sexo.

Na época romana o sexo foi desvinculado da religiosidade, porque, até a época dos gregos, beleza e divindade caminhavam juntas – o cheirar e o comer era belo. As orgias romanas eram uma avacalhação geral. Agostinho foi um dos que tentou resguardar a alma dessa dessacralização.

O movimento cristão vem tentar purificar essa degradação romana. Já na idade média, o sexo e tudo o que estava interligado a ele virou profano, diabólico. A mulher, assim como o prazer nesse patriarcado virou culpado, reprimido.

A religião virou renúncia e ascetismo, saída e condenação do mundo : a clausura ; tentação versus salvação e misoginia, horror da mulher.

Portanto o sexo que na antiguidade era sagrado, agora virou pecado.

A renascença veio abalar a mentalidade medieval. A relação homem/mulher e o casamento estavam ligados a propriedade e ciúmes.

Rudolf Steiner fala de diferenciação das almas :  na época grega a “alma do intelecto ”, na época medieval a “alma do sentimento”, e na época moderna, a “alma da consciência”. Foi Kant quem primeiro falou de auto consciência, esta é uma percepção interna recente, onde cada um é ligado à si próprio.

Steiner propõe que, para cada um ser si mesmo, devia-se partir para o individualismo ético em lugar do egoísmo – o judeu herege foi Jesus e o maior herege indú foi Buda.

O toque é o elemento básico da sensualidade. A hipersexualidade da época  atual é justamente por uma hiposensualidade, ou em outras palavras, uma cultura com muita falta de toque, tato.

A concepção evolutiva da antroposofia se distingue da ciência oficial que crê na descendência do animal ; em um sentido, quanto mais para traz na evolução, mais espiritual e não animal .

Para que serve o sexo ? Reprodução, prazer, afeto, espiritualidade .

Existe uma relação direta entre a insatisfação afetiva, de toque, e as formas de câncer, em mulheres ,mais comuns o da mama e colo de útero, e nos homens, de pulmão e próstata .

Individual é uma coisa que não se divide. Uma das maiores coisas esquisofrênicas é puxar o espiritual para um lado e o sensual para o outro.

A “alma da consciência” exige que façamos escolhas livres e harmônicas com o si mesmo – pressupõe auto conhecimento.

Nos antigos mistérios existia o processo de iniciação que começava pela Katarsis, seguia para a Katabasis ( encontro com o sósia ), e terminava com a Anabasis ( encontro com Deus ).

Quando se tem uma proposta espiritual na vida, a primeira coisa que se tem que perder é a contradição entre as coisas .

São apenas aspectos diferentes da vida.

As pessoas tem que ser o que elas são verdadeiramente. Não é a sexualidade que é sombria, é o ser humano que tem um aspecto sombrio que pode mais facilmente se expressar na sexualidade.

A humanidade ainda não sabe amar. Quanto mais humanos nos tornamos, mais capazes de amar nós somos.

sábado, 22 de agosto de 2015

Uma prática em CNV - Comunicação Não-Violenta

Estou há algum tempo buscando expressar o que aconteceu. 
Estou há algum tempo tentando conceber algo que sempre acontece, ou algo que poderia acontecer sempre, ou que acontece quando escolhemos que aconteça. 

Estive em um grupo de pessoas, durante um dia todo, e uma noite que o antecedeu, respeitando uma lógica que não respeitava a lógica comum, mas a convivência capaz de tornar comum um outro ser humano que a princípio seria incomum, diferente, e por isso um excluído de meu convívio. Ou por ser criança, ou por ter outra classe social, ou por ter uma formação diversa, ou por não ter formação alguma, ou por ter dinheiro demais, ou de menos, ou nenhum… A lógica do não-julgamento, da não-violência, da não-ignorância. 

Pausa. Neste momento procuro pela etimologia da palavra "ignorância". Encontro um dicionário em outro cômodo da casa. "Consto", como diria Dominic *, para dizer "constato", o quanto a linguagem e a forma me contagiam. Pois passo a escrever conforme as pessoas que leio, ou ouço. Escuto em minha mente uma outra voz, como se ele articulasse minhas palavras e respeito esse processo meu de reproduzir uma mensagem, que é minha, mas que escolhe a forma de uma outra pessoa por estar por demais embevecida, banhada, influenciada por ela. Vejo que alguns formatos de minha linguagem são misturas daquilo que ouvi e ouço do mundo, e não só de Dominic, e volto para a palavra "ignorância" cujo significado etimológico é "não saber, não conhecer". Ou seja, aquele a quem chamamos "você é um ignorante!", quando queremos dizer "você é um grosso" ou "grosseiro", estamos na verdade emitindo o que, muito provavelmente, é uma verdade. Isto é, talvez "você", este nosso interlocutor de que falamos, seja apenas alguém que não sabe, ou não conhece. Ainda não podemos julgar se a si mesmo, ao outro, ou ao mundo todo. Mas apenas alguém que não sabe ou conhece as mesmas coisas que nós e isso não deve diminuí-lo, ou desumanizá-lo, na mesma medida em que ele nos diminui ou desumaniza. Não só porque temos um conhecimento que ele não tem, mas porque ele também tem um conhecimento que não temos. Mesmo que ainda não tenha, ele mesmo, entrado em contato com este conhecimento, ele é a única ponte que temos para conhecê-lo, para adentrá-lo, como um explorador que busca um tesouro em uma gruta escura e que, `a medida que avança, pode perceber lampejos e brilhos das preciosidades que ainda não podem ser vistas. 

Comunicação não-violenta é desejar e buscar o tesouro "violentamente", `a todo custo. É se empenhar para que esse encontro seja possível, sobretudo com aqueles a quem consideramos ignorantes, grosseiros, quando na verdade são apenas uma outra pessoa, um ser, que sabe outras coisas, não as nossas mesmas coisas, e que por essa divergência parece muito diferente, mas guarda inumeráveis semelhanças com aquilo que somos mais profundamente. Comunicação não-violenta talvez seja a busca dessas semelhanças, uma exploração de algo que difere de nós na esperança do encontro daquilo que nos espelha. 

Então me recordo do trecho de uma canção de Caetano:
"Narciso acha feio o que não é espelho". 

Que possamos ver beleza, achar belo, o que não é espelho, o que é apenas humano. Que possamos chegar onde esta humanidade ainda sobrevive intacta como um tesouro intocado e valioso, repleto dos nossos próprios valores, os mesmos valores. 
…………………..
*Dominic Barter, o facilitador do workshop de CNV - Comunicação Não-Violenta, é inglês, mas fala fluentemente português, até com uma certa beleza e sofisticação de linguagem, talvez o neologismo faça parte disso. 😉

Como chegamos ao consumismo que nos consome?


Esse vídeo me toca porque representa a cultura ao nosso redor, aquilo com o que compactuo de forma inconsciente... É uma porta para reflexão e abertura de consciência a respeito desse consumismo louco. Você já se perguntou se isso está certo? Se faz mesmo bem para você? Tenho me perguntado cada vez mais e torço para que as respostas sejam encontradas antes que o planeta seja ainda mais destruído. 
Onde (e quando!) vamos parar?

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Louis Lavelle


Estou fascinada com o livro "O erro de Narciso" de Louis Lavelle, filósofo do qual nunca tinha ouvido falar. Sinto-me grata por ter me deparado com esta bela edição da Realizações Editora. 

"O próprio da sinceridade é obrigar-me a ser eu mesmo, isto é, tornar-me eu mesmo o que sou. Ela é uma busca da minha própria essência, que começa a se adulterar quando tomo do exterior os motivos que me fazem agir. Pois essa essência nunca é um objeto que contemplo, mas uma obra que realizo, o emprego de certos poderes que estão em mim e que murcham se deixo de exercê-los".

domingo, 2 de agosto de 2015

Amor



Amor é uma palavra rara. Não importa quantas vezes seja dita. A palavra se realiza no ato, não no verbo. É o ato de amar que faz a palavra amor ser provável, existível, "vivível mas não achável". Que é o mesmo que dizer "capaz de ser vivido, mas não de ser encontrado". Se alguém disser que encontrou o amor, foi porque o viveu, ou viu alguém que o vive e que, por isso, ama. 
Eu já vi. O amor puro. Não porque estava conscientemente em busca, porque mesmo a busca consciente não ajuda tanto,  mas há o propósito da alma, a alma está destinada a esse fim: o amor, e a minha foi arrebatada com este encontro. Eu olhei para o amor e ele tinha braços, pele, pernas,  olhos e sorriso de gente. E ele amava tudo ao seu redor, até eu mesma. Ser verdadeiramente amado é uma parte da libertação, é um passo na caminhada de amar, embora seja um trajeto misterioso e escuro a quase todos que vivem nesta Terra. 
O amor eleva a alma a estados superiores, é uma morte em vida. A morte do "eu", do "meu", do ego. E a possibilidade de visão do que é real. Como ouvi ontem "o mundo não é um shopping center" embora muitos pensem que seja só isso "não viemos aqui só para comprar, casar, ter filhos e morrer". Ou você acredita nisso também? Viemos aqui por diversão, então? O problema é que essas "diversões" são fantasias que não preenchem por muito tempo. Por isso queremos sempre mais e mais e mais... Com isso como fica o planeta? É possível conseguir atender tantos desejos? Falo debaixo, de todos meus desejos, e não de cima. Falo de dentro de todo meu ego, minha prisão ilusória. Falo apenas. Não busco o amor, basta que minha alma o busque. E uma sabedoria me diz que é meu destino vivê-lo, mesmo sem encontrá-lo. Enquanto isso reverencio quem já o vive. Quem pode ser o próprio amor. Reverencio com todo amor e devoção que me é possível. 
(Mas não deixa de ser curioso que a palavra esteja exposta justamente em frente e um shopping center)

sábado, 1 de agosto de 2015

Mudar o mundo. Que mundo?

Um comentário a um amigo desanimado com a "ignorância" de sua timeline no Facebook:
"Entendo completamente suas palavras e acredito que alguns desses amigos são os mesmos. Mas acredito ainda mais que esses amigos também somos nós, infelizmente. Uma parte nossa é assim já que são "nossos amigos" mesmo que só no Facebook. Acho que a revolução precisa acontecer na gente, dentro do coração e quando ela acontece de verdade ela há de pegar esses amigos e todos. Se eles ainda não compreendem, ou não foram 'pegos' é porque temos ainda muito a fazer e a mudar. Isso não devia nos desanimar. Se a nossa paixão é empreender, fazer o que amamos, influenciar pessoas, mudar o mundo, que possamos nos motivar porque existe muito mundo (e muita gente) a ser mudado e mudada. Mas precisamos começar por nós mesmos, um pouquinho a cada dia. E a mudança acontecerá. Sempre. 
'Que possamos ser a mudança que queremos ver no mundo'. "🌸😉