sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Rachadura

Há uma rachadura na parede do meu quarto, ao lado da minha cama um sentimento rachado, eu sou a veia que corta o tijolo que edifica a parede, sou esse vazio no concreto, eu sou a poeira entre  os tijolos, o silêncio entre o cimento, o vácuo do concreto, o oco do meu sono, a fresta do meu sonho. 

Essa linha que atravessa o branco sou eu, na incessante busca por ar, quero respirar o sopro de vida na seiva do céu. Vou subindo em estreitos labirintos de pensamentos pesados. Desvio-me do que não sou eu e subo com o fôlego do espírito. 

Eu me entrego, ó força súbita do meu ser, tu que és o puro frescor da inocência misturado à coragem dos amantes, tu que és o conhecedor da história vivida, a que me identifiquei... À tu me entrego. Relaxo em teus grandiosos braços de vento, inspiro o ar do teu pulmão imenso, recaio em mim sem medo, no sussurro de teu sublime canto. Me encanto de teu brilho encantado, de tua poesia suspensa por estrelas-rainhas da noite, que seguram como a um véu, uma bandeira no marinho infinito do universo. Cintilam as palavras e eu não as leio. Deitada no teu seio, apenas me entrego. Sou eu este incansável mistério?

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