Voltou tudo, querido, tudo que sempre senti por você, tanta admiração, tanta gratidão, tanto respeito. Você foi um mestre que me fez sentir tanto... Iluminou tantos pedaços do meu coração. Você mudou a minha vida, você me permitiu encontrar meu sonho, você me trouxe coragem. E você nem me conhecia, né, Rubem? Talvez por isso o meu texto preferido que você escreveu é: "Uma árvore para Ladon Sheats". Esta história sobre um amigo distante que você jamais encontrou e mesmo assim compartilharam tanto. Mas nós nos encontramos. Eu o vi muitas vezes, assisti suas palestras e ouvi com muito silêncio tudo que disse em palavras faladas ou escritas e tudo, tudo, tudo reverberou em mim e agora reverbera novamente como se jamais tivesse deixado de ler as histórias que você contou. Quando finalmente tive coragem de abordar você eu o fiz da forma mais aconchegante para mim, escrevendo, como você. Enviei um e-mail, isso deve ter sido em 2003, por aí... Eu compus uma bela sinfonia com o máximo de beleza que me era natural pela inspiração que você me trazia e tinha certeza que teria uma resposta. E a resposta veio, mas tão sucinta diante do meu amor, que julguei não ter sido sua, poderia ser uma resposta automática... Em nosso próximo encontro eu timidamente o abordei, perguntei se você respondia os e-mails e sua resposta foi que lia, mas não conseguia responder a todos e te falei "não, na verdade enviei um e-mail para você e recebi resposta, eu só queria saber se foi você". Então você falou em um tom um tanto quanto aborrecido: "Ah, eu te respondo e você ainda vem me reclamar!" e riu. Fiquei sem graça e não falei mais nada, fiquei só te olhando dar autógrafos para uma fila imensa e sentindo a minha admiração e carência da sua atenção. Eu era mais uma leitora para você, Rubem, você era meu autor preferido... Então, depois de muitos dos seus livros, eu quis conhecer outros autores, muitos dos que você citava, muita poesia, filosofia... Cecília Meireles, Fernando Pessoa, Nietzsche (seu filósofo preferido) Guimarães Rosa, Adélia Prado, Manoel de Barros, Pablo Neruda, Milan Kundera... E só agora percebo que nenhum, nunca, me tocou tanto como você. Você foi o que mais entrou no meu coração e, mesmo quando achei que já tivesse saído, quando já nem me lembrava mais, você estava lá...
Preciso contar que você esteve comigo nos momentos mais incríveis que vivi. Em 2004, quando saí pela primeira vez, com o grande amor de minha vida, eu trazia na mão dois de seus livros. Em 2011 quando me casei com ele, entre os textos mais lindos que poderíamos escolher para a nossa cerimônia, que aliás foi muito baseada em tudo que você escreveu sobre ritos e casamento, escolhi um texto seu. Ah, Rubem, veja quanto você perfumou a minha vida! O seu amor invadiu tudo, até o meu amor.
Como você fez com Ladon Sheats eu também preciso plantar uma árvore para você, uma árvore com seu nome, um ipê amarelo, diante de uma linda paisagem. Eu também tenho um lugar, com montanhas, lagos, muito verde, pássaros, cavalos e peixes. Como eu ainda não plantei uma árvore para o meu pai, vou plantar para ele também, vou colocá-los lado a lado, você vai gostar dele. Ambos estudaram teologia, filosofia e psicanálise, gostavam de jardins e sonhavam em voltar para as estrelas. Vou fazer isso, Rubem, por você, por ele, e por mim.
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Estava aqui vendo suas fotos, quando o conheci você já era velho, mas sempre o vi tão menino...
Eu te recebo e te ofereço todos os meus brinquedos, meus sonhos, flores, bolhas de sabão e poemas. O que mais você poderia querer? Uma leitora boba, que mal sabe o que dizer diante de você? Deixarei você a sós, na companhia do vento e de um ipê amarelo. Por favor, continue brincando nos jardins da minha alma, e esqueça que te assisto de longe, e que vivo porque você brinca.
Aline Ahmad
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Estava aqui vendo suas fotos, quando o conheci você já era velho, mas sempre o vi tão menino...
Eu te recebo e te ofereço todos os meus brinquedos, meus sonhos, flores, bolhas de sabão e poemas. O que mais você poderia querer? Uma leitora boba, que mal sabe o que dizer diante de você? Deixarei você a sós, na companhia do vento e de um ipê amarelo. Por favor, continue brincando nos jardins da minha alma, e esqueça que te assisto de longe, e que vivo porque você brinca.
Aline Ahmad